sexta-feira, 27 de abril de 2012

ABORDAGEM DURKHEIMIANA NA PESQUISA TIC 2010.


         1. INTRODUÇÃO
Esse trabalho consiste em realizar uma análise nos dados registrados na “Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação no Brasil”, realizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil no ano de 2010. Ressalta-se que a pesquisa tem como objetivo avaliar os impactos que as novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) têm proporcionado, considerando um impacto social direto, de forma cada vez mais intensa e rápida. Esses impactos são em diversos setores da sociedade, como econômico, social, política e cultural. “Organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Banco Mundial, entre outras, trabalham de forma colaborativa na definição de metodologias, indicadores e métricas que sejam capazes de medir o acesso, o uso e a apropriação das novas tecnologias, base para o desenvolvimento da sociedade da informação” [1]. Elas são feitas anualmente em todo o Brasil, incluindo áreas urbanas e rurais, e fornece subsídios para a discussão sobre o desenvolvimento das TIC no país.
O foco do projeto é a analise de dois pontos relevantes da pesquisa. A proporção de domicílios com computadores, e a proporção de domicílios com acesso à internet. Para a realização da analise, foram usados conceitos de sociologia impostos pelo filósofo Emile Durkheim, levando em conta que esse trabalho é realizado com subsídio literário, obras do autor, além das aulas expositivas realizadas dentro do cronograma estabelecido para a disciplina Estrutura e Dinâmica Social.
Deve-se considerar a história de Émile Durkheim, onde se expõem uma aceitação na área sociológica de que ele é considerado um dos pais da Sociologia. Nasceu na França em 1858 em meio a uma família judia, entretanto não seguiu a tradição familiar e se declarou agnóstico, Durkheim acreditava que a religião se dava por fatos sociais e não divinos. “Sofreu influência de Auguste Comte e Herbert Spencer. Suas obras mais relevantes são: Da divisão do trabalho social, O suicídio e Regras do método sociológico” [2]. É necessário reforçar que, embora o período em que viveu Durkheim não tenha sido contemplado por tecnologias da informação, o seu modelo positivista de ver a ciência, tradicionalmente, e considerando sua visão de determinação de leis para a sociedade, cria-se um ambiente de estudo para qualquer período histórico, onde é possível determinar leis mediante a observação e avaliação dos fenômenos em análise.
Durkheim determinou um objeto próprio de estudo da sociologia: os fatos sociais, e tal ação é um importante elemento, no âmbito das definições para as ciências positivas, uma vez que a metodologia científica incumbia no apontamento de objetos de estudos. Por meio desta concepção Durkheim foi além de explicações filosóficas e usou de técnicas e métodos, em um sistema dedutivo e indutivo que pode ser contemplado em seu livro As Regras do Método Sociológico, para determinar um objeto próprio de estudo para a sociologia, por meio do qual poderiam ser realizados os estudos necessários para compreensão das sociedades. 
O fato social detém uma especificação condizente com todos os fenômenos que acontecem no interior das sociedades, desde que apresentem algum interesse social. Como conceituou Durkheim (1984, p. 52) “é fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que se possa ter”.
2. DOMICÍLIOS BRASILEIROS COM COMPUTADORES
A pesquisa mostra que a renda familiar é determinante na proporção de domicílios com computador, conforme sugere o gráfico da figura 1, onde o custo elevado corresponde a setenta e quatro por cento de todos os motivos que impactam na aquisição de computadores. Em outra análise universal, tem-se que quase noventa por cento das famílias com renda acima de dez salários mínimos possuíam computadores em seus lares em 2010, enquanto só seis per cento das famílias com até um salário mínimo. Os maiores motivos para a falta de computador no domicílio segundo a pesquisa são “custo elevado” e “não tem como pagar” que somam setenta e quatro por cento. A aquisição de bens de consumo como o computador depende do poder de compra do indivíduo.

Figura1 – Gráfico com os motivos para falta de computador no domicílio. – Fonte: TIC 2010

Uma pesquisa concluída e apresentada pela revista Estudos Econômicos , contemple a figura 2, revela que a renda familiar é diretamente proporcional ao nível de escolaridade. Isto significa que o poder de compra será maior quando maior for a escolaridade.
Émile Durkheim via a escola como um fator determinante de ascensão social. A educação é, assim, vista como um fato social. Para Durkheim o sistema educacional tem um papel importante na sociedade porque é o lugar por excelência no qual as pessoas são apresentadas às orientações que a sociedade espera delas. O objetivo é a formação de cidadãos integrados à sociedade.



Com relação ainda a educação, é necessário realizar uma alfabetização digital da população conforme indica a pesquisa que vinte e seis por cento não possuem computador por falta de habilidade para operá-lo. Deve-se inserir o homem em uma sociedade cada vez mais informatizada.
Segundo Durkheim (1984, p. 52), os fatos sociais são “maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, e dotados de um poder coercivo em virtude do qual se lhe impõem”. Os fatos sociais são resultados de uma consciência coletiva e são impostos ao indivíduo pela sociedade. São como leis próprias que interessam e afetam um grupo. O meio social, “através de aparelhos de coerção e da própria instituição educativa, contribui para regular, controlar e moldar permanentemente o comportamento individual, tornando os processos coletivos harmônicos e estáveis”.
O segundo motivo para a falta de computadores no domicílio que a pesquisa aponta é “não há necessidade ou interesse” que representa trinta e oito por cento. A inclusão digital observável como um fato social, em uma perspectiva completamente Durkheimiana, ainda se encontra em andamento no Brasil, dado o rol de análises dos números acima.

3. DOMICÍLIOS BRASILEIROS COM ACESSO À INTERNET

De acordo com a “Internet World Stats, 2,267 bilhões de pessoas tinham acesso à Internet em abril de 2012, o que representa 32,7% da população mundial. Segundo a pesquisa, a Europa detém pouco mais que 500 milhões de usuários, correspondendo a 61,3% da população. Mais de 65% da população da Oceania tem o acesso à Internet, mas esse percentual é reduzido para 13,5% na África. Na América Latina e Caribe, um pouco mais de 230 milhões de pessoas têm acesso à Internet (de acordo com dados de abril de 2012), sendo que quase 80 milhões são brasileiros (de acordo com dados de 31 de dezembro de 2011)” [3] [4]. “80 milhões de pessoas com acesso à internet no Brasil é um número que representa aproximadamente 41,6% da população, tendo em vista que o Brasil possui 192 376 496 habitantes estimados em 2011” [5].
Este número de 41,6% chegou a ser muito menor em anos anteriores, como podemos inferir observando a pesquisa "TIC Domicílios e Empresas 2010 - Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação no Brasil", observe figura 3, que aponta que 27% dos domicílios brasileiros possuem acesso à internet (devemos ressaltar que esta porcentagem refere-se ao número de domicílios e não de usuários).
Na pesquisa os motivos apontados pelos indivíduos para que o acesso à internet não ocorra referem-se a problemas de custo e de infra-estrutura. 49% não possuem internet devido ao alto custo, o que é um julgamento de valor segundo Durkheim, pois o preço pode ser considerado alto pela parcela da sociedade citada, enquanto não é considerado alto pelo restante; enquanto 23% não possuem internet por falta da disponibilidade na área onde tais indivíduos residem, que no caso é considerado um julgamento de realidade, pois simplesmente não há disponibilidade na área ou a área (ou até mesmo cidade) não tem cobertura fornecida pela empresa prestadora de serviços, etc.
Outras porcentagens, como pode ser observado na figura 3, representam a falta de interesse dos indivíduos (16%) e a falta de habilidades dos mesmos (12%); ambas as alegações constituem de julgamentos de valor, pois como anteriormente dito no caso das pessoas que alegavam um alto custo da internet, estas alegações são passíveis de serem aceitas por parte da sociedade, bem como são passíveis de não serem aceitas pela mesma parte da sociedade em questão.
Figura3 – Gráfico com os motivos para falta de internet no domicílio. – Fonte: TIC 2010
 O acesso de todos à internet, como citado anteriormente, faz parte de um processo de (pesquisa TIC 2010, p. 143) "universalização da banda larga e da democratização do acesso à informação", tal processo (ou podemos nos referir aos fins de tais processos) pode(em) ser visto(os) (seguindo os pensamentos de Durkheim) como um fato social tanto no âmbito científico mundial como no âmbito do indivíduo ordinário  que cresce em uma sociedade que está familiarizada e habituada com a grande quantidade de informação absorvida diariamente através de todos os meios de comunicação existentes. Podemos assim exemplificar e explanar as duas situações: Na primeira podemos dizer que em um mundo onde toda a descoberta científica e avanço tecnológico são compartilhados (para então serem aperfeiçoados), existe uma coerção de tal sociedade científica sobre o profissional que está no começo de sua carreira, de modo que tal profissional passe por uma adequação a esta sociedade naturalmente. No segundo caso o indivíduo cresce rodeado de informações, fazendo assim com que tal indivíduo esteja rapidamente familiarizado com o livre e amplo acesso à informação presente em sua sociedade.
No Brasil é necessária uma política mais eficaz que proporcione um maior número de lares conectados a rede, gerando uma maior inclusão da sociedade na internet. “Nessa sociedade, as instituições, em especial a escola, têm como função a reprodução dessa ordem e a transformação dos indivíduos para adaptarem-se ou inserirem-se nela”, apontava Durkheim (1967). Logo, o significado do termo “inclusão”, na perspectiva moderna, implica um modelo onde todos serão inseridos, introduzidos, adaptados.
A sociedade deve se mover como um todo, pois, como aponta Durkheim, a importância da insatisfação do indivíduo no processo de desenvolvimento dos modelos sociais. A dinâmica aplicada em uma comunidade limita o senso de insatisfação. Pois o convívio maior se dá entre os membros do grupo, subtraindo grande parte das referências externas que levariam o indivíduo a questionar sua posição social mediante outro modelo de vida [6].
Outra abordagem que podemos realizar é sob o ponto de vista  Durkheimiano, onde o amplo acesso à informação e o conseqüente dimensionado acesso ao mundo informacional e em redes advindos da coerção da sociedade sob o indivíduo (abordada anteriormente) fará com que a especialização torne-se ainda mais complexa, fazendo assim com que a solidariedade orgânica presente nas sociedades em questão solidifique-se cada vez mais com o passar do tempo e com o conseqüente aumento da informação disponível. Desta maneira teremos indivíduos cada vez mais especializados e assim o desenvolvimento econômico e social ficam mais prováveis de ocorrer com mais rapidez em tais sociedades.

“A ciência e a tecnologia não mais servem ao homem. Não é um meio de libertação dele, mas se tornaram um fim em si mesmo” [7]. É interessante a observação de Émile Durkheim sobre o avanço da tecnologia, que ele percebia já no século XIX: “À medida que os homens são obrigados a produzir um trabalho mais intenso, os produtos deste trabalho tornam-se mais numerosos e de qualidade superior; mas estes produtos, melhores e mais abundantes, são necessários para compensar as energias despendidas por este trabalho mais considerável (DURKHEIM, 2006, p. 110)” [7].

Como diz Durkheim: "O que, ontem, achávamos suficiente, hoje nos parece abaixo da dignidade humana; e tudo faz crer que nossas exigências serão sempre crescentes” [8].

4.   DISCUSSÃO
Para as análises realizadas nos tópicos anteriores é necessário apontar que Durkheim dividia a sociologia em três estruturas, a qual denominou de morfologia social, fisiologia social e sociologia geral, por meio das quais seria possível estudar uma determinada sociedade. Analisando criteriosamente a pesquisa TIC 2010 é possível observar, no âmbito da morfologia social, que a população brasileira constitui-se, em grande parte, urbana, e que a rural ainda não acompanha o progresso das tecnologias da informação em níveis superiores nas áreas urbanas.
Em outra dimensão de análise, quando se averigua dados de outros países, instaura-se uma caracterização puramente relacionada com fato social, pois a coerção para que o indivíduo obtenha as tecnologias de informação e comunicação (tic's) são tão intensas e dotadas de sanções espontâneas, haja vista que não obter um computador e não ter acesso à internet irá impactar na inacessibilidade a diversas atividades e conjuntos de informações, tornando o indivíduo isolado mediante um mundo que vive em rede. Em um modo lacônico, considerando que Durkheim (1984, p. 49) propõem “o fato social é reconhecível pelo poder de coerção externa que exerce [...] e a presença desse poder é reconhecível [...] pela existência de alguma sanção determinada [...] pela resistência que o fato opõe a qualquer empreendimento individual que tenta violentá-lo”, é inegável que a inclusão ao mundo das tic’s se faz coercitivo e externo ao indivíduo na sociedade atual. Um exemplo pode ser considerado nessa visão: no meio acadêmico o pesquisador que se posicionar contrário ao uso da rede irá sofrer com a sua posição ínfima mediante seus competidores, pois aqueles terão acesso a um conteúdo muito maior e compartilharão de mais conhecimento, impulsionando o progresso.
Quando o meio de avaliação passa a conter questões de interação e convivência em rede, os conceitos de Durkheim para a solidariedade orgânica tornam-se aplicáveis, pois a divisão do trabalho é um importante elemento, atuando como base, na construção das relações em rede, onde existe nítida interdependência e cada vez maior especialização. O modelo atual é uma evolução de situações que se instituíram de forma a propiciar o intenso nível de uso das tic’s, essencialmente necessário para que houvesse um direcionamento à necessidade de considerar as questões individuais, o que Durkheim (1984, p. 83) explicitaria que “a consciência coletiva deixe descoberta uma parte da consciência individual”, onde se tem a formação e ênfase da personalidade no contexto, e foca-se a importância dos indivíduos na composição desse mundo conectado em redes, ou seja, as contribuições integradas que corroboram para o quadro de instituição da sociedade em rede.
Nesse momento de análise, onde o Brasil tem por necessidade adequar suas estruturas socioeconômicas e educacionais de forma a propiciar o acesso universal de sua sociedade ao mundo em rede, corrobora para a ideia que as sociedades podem ser analisadas com leis, ou seja, proposições que enquadram resultados imediatos e que, genericamente, podem ser aplicáveis, mesmo considerando as peculiaridades de cada fato social. Para Durkheim (1984, p. 45) ““Por mais diferentes que sejam uns dos outros, os diversos tipos de fatos sociais não são portanto senão espécies de um mesmo gênero”, e assim temos que o Brasil deve se estabelecer como forma de garantir a coesão, pois a solidariedade orgânica determina uma série aspectos sociais e de convivência, que neste caso, torna-se global, enfatizando a ideia de que as tic’s colocaram em interação partes que em outros períodos eram um todo isolado, ou seja, sociedades que, no âmbito da informação, estão cada vez mais próximas e influentes umas sob as outras, e no que é tangível à esse modelo Durkheim afirma que “a coesão que resulta desta solidariedade é mais forte”.

         5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No que é tangível à análise da pesquisa TIC 2012 considerou-se a inclusão digital como um fato social como parâmetro básico em uma avaliação Durkheimiana, além de outros conceitos que o referido autor propôs para a sociologia, enfatizando os exemplos e contextos e a visão positivista da atividade.

         6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
  • COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. Pesquisa sobre o uso de tecnologias de informação e comunicação no Brasil: TIC Domicílios e TIC Empresas 2010. São Paulo: CGIbr, 2012.
  •  DURKHEIM, Émile. Émile Durkheim: sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1984. Coleção Grandes Cientistas Sociais. (Capítulo: 1 - Divisões da Sociologia: as ciências sociais particulares; 2 - O que é fato social?)
  •  DURKHEIM, Émile. Émile Durkheim: sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1984. Coleção Grandes Cientistas Sociais. (Capítulos: Método para determinar a função da divisão do trabalho; Solidariedade Mecânica; Solidariedade Orgânica; Preponderância Progressiva da Solidariedade Orgânica; Divisão do Trabalho Anômica)
  •  [1] Comitê Gestor da Internet no Brasil. Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação no Brasil, 2010. Página 33.
  •  [2] Durkheim e a Sociologia. Disponível em: < http://www.consciencia.org/durkheim-e-a-sociologia >. Acesso realizado em: 17/02/2012.
  •  [3] Internet World Stats. Disponível em: < http://www.internetworldstats.com/stats.htm >. Acesso realizado em: 25/04/2012.
  •  [4] Internet World Stats. Disponível em: < http://www.internetworldstats.com/stats10.htm >. Acesso realizado em: 25/04/2012.
  •  [5] IBGE divulga as estimativas populacionais dos municípios em 2011. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1961&id_pagina=1&titulo=IBGE-divulga-as-estimativas-populacionais-dos-municipios-em-2011- >. Acesso realizado em: 25/04/2012.
  • [6] NAKAMURA, André Luis. “Uma comunidade unida pela comunicação e imaginação: a comunidade Yuba e sua relação com o ciberespaço”. Revista Eletrônica do Programa de Pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero, Volume nº 2, Ano 3 - Dezembro 2011 – São Paulo.
  •  [7] Inclusão digital educação tecnológica. Disponível em: < http://glauberataide.blogspot.com.br/2008/11/incluso-digital-e-educao-tecnolgica.html >. Acesso realizado em: 25/04/2012.
  •  [8] Geração Z: Uma nova forma de sociedade. Disponível em: < http://br.monografias.com/trabalhos3/geracao-z-nova-forma-sociedade/geracao-z-nova-forma-sociedade3.shtml >. Acesso realizado em: 25/04/2012.


quarta-feira, 11 de abril de 2012

ABORDAGEM SOBRE DOMINAÇÃO LEGÍTIMA.

O que é poder e dominação para Weber?

Segundo Max Weber (2009, p. 33), “poder significa toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade”. Infere que poder é a oportunidade que uma pessoa ou um conjunto de pessoas tem para impor suas vontades sobre as vontades de outras pessoas na sociedade numa dada situação, mesmo com resistência das mesmas. Este conceito está ligado à dominação, onde há dominantes e dominados.
Weber (2009, p.139) define dominação como “a probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de determinado grupo de pessoas”. Para que haja uma relação autêntica de dominação é necessário um mínimo de vontade de obedecer às ordens de alguém; de um interesse na obediência, seja este interno ou externo.

Qual a diferença de dominação legítima para a ilegítima?

Para Weber em determinadas circunstâncias alguém esta investido de uma autoridade que é reconhecida e legitimada individual ou coletivamente. A este poder legitimado Weber chama de legítima relação de mando de dominação. Segundo ele poder e dominação são as duas faces da mesma moeda.
Poder e a capacidade que alguém tem de impor a sua vontade sobre outros. Por sua vez, dominação e a probabilidade de que estes outros obedeçam às ordens dadas, isto é, esses outros aceitam e, por isso legitimam as ordens dadas por alguém. Por isso Weber fala em dominação legítima.
Às vezes fala em dominação e às vezes fala em autoridade. Então a dominação legítima esta para a autoridade assim como a dominação ilegítima esta para o autoritarismo.
Ao contrário do autoritarismo que e imposição pura e simples, autoridade e a capacidade de direção fundamentada no consenso e a aceitação. Qual é o fundamento da legitimidade da dominação ou por que a dominação é legítima? Segundo Weber existem três tipos puros de dominação legítima:



  • Tradicional: Se estabelece “em virtude da crença na santidade das ordenações e dos poderes senhoriais de há muito existentes”. Laços de fidelidade que se estabelecem entre senhor e súdito. Sociedade patriarcal, coronelismo.
  • Carismática: Formas de exercício do poder típicas dos momentos de crise são vistos como personalidades extraordinárias, portadores de qualidades sobrenaturais ou excepcionais, cujas ações revolucionam o curso da evolução de civilizações inteiras. A legitimidade da autoridade carismática se baseia no fato de todos acreditarem na autenticidade da missão do líder. Ex. profetas religiosos (JESUS CRISTO, Maomé) ou lideres políticos (Napoleão).
  • Racional-legal: O indivíduo que exerce esse tipo de autoridade, o faz em nome de regras impessoais que foram conscientemente instituídas em nome de um debate coletivo. E racional porque tende a expressar o esforço coletivo de estabelecer, a partir de critérios racionais, normas as quais todos devem obedecer. E legal porque estas normas são expressas em leis. 

Podemos encontrar em um dado fenômeno apenas um tipo de dominação?

"A dominação é fato decorrente da origem do mundo, sempre haverá algo a ser dominado e liderado. Desde a relação entre os animais até os seres humanos, os indivíduos necessitam de um “ser” poderoso para guiá-los, orientá-los e dominá-los. A dominação é algo permanente, sempre existirá, até mesmo por que é fundamental.Os tipos de dominação seguirão vivos nas mais variadas formas, a legal na hierarquia das empresas, a tradicional, mesmo apesar dos tempos modernos, ainda permanecerá no comando exercido pelo pai ou pela mãe nas famílias, e os carismáticos sempre presentes nas novas e antigas religiões" [2]. O que podemos observar como por exemplo no caso do pai e filho citado no texto, é que ocorre uma dominação tradicional porém que não deixa de ser também uma dominação legal, pois enquanto o filho é menor de idade ele é dominado pelos pais. Outro exemplo é o caso do homem que é submisso à Deus, que sofre uma dominação carismática, mas que também não deixa de ser uma dominação tradicional a partir do ponto em que tal submissão à Deus seja algo cultural. O que concluímos então é que quanto maior interação do fenômeno com elementos de ação social (ou seja com ações de outras pessoas que influenciem diretamente na sua) é aceitável dizer que a dominação predominante determina as características do fenômeno, no âmbito da avaliação da dominação presente, no entanto, alguns traços conectados podem ser averiguados de outros tipos de dominação, como no exemplo da questão de Deus, em um aspecto de dominação carismática, mas tendo em conta que a cultura influência via dominação tradicional, esta última no entanto não é a norteadora do fenômenos ou da dominação que afeta o indivíduo diretamente.

Como Weber define o Estado?

Weber define o Estado de maneira sociológica como estrutura ou o agrupamento político que reivindica, com êxito, o monopólio do constrangimento físico legítimo, ou seja, o direito de uso de força. Deve-se conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território – a noção de território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado – reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física. Assim, o Estado se torna a única fonte de “direito” à violência. Recorremos ao Estado para saber se temos o direito de usar a violência.
Weber também observou que se a violência não existisse em nas estruturas sociais, o conceito de Estado teria desaparecido e teria dado lugar ao que chamamos de anarquia.
Segundo Weber, o verdadeiro domínio encontra-se no Estado Moderno, o qual
na aplicação diária da Administração, necessária e inevitavelmente nas mãos do funcionalismo seja militar ou civil.

O que é ação social?

Weber, por meio de um dos capítulos de seu livro Sociologia, abordou sobre dominação legítima, onde se estabeleceu uma definição para ação social. "A definição mais aceita de ação social é aquela que a defende como uma ação que é orientada pelas de ações de outros" [3]. Analisando as proposições de Weber para essa orientação com relação direta com a ação de outros, temos que a ação social é todo comportamento cuja origem depende da reação ou da expectativa de reação de outras partes envolvidas. "Essas outras partes podem ser indivíduos ou grupos, próximos ou distantes, conhecidos ou desconhecidos por quem realiza a ação" [3].
"A ideia central da ação social é a existência de um sentido na ação: ela se realiza de uma parte (agente) para outra. É uma atitude sobre a qual recai ao menos um desejo de intercâmbio, de relacionamento. Como toda relação social , é determinada não só pelos resultados para o agente, mas também pelos efeitos (reais ou esperados) que pode causar ao outro. Uma divisão clara entre ações que podem e não podem ser consideradas como sociais é impossível de ser feita. Na verdade, para entendermos se uma ação é social devemos prestar atenção no contexto em que ela ocorre. A mesma ação pode ora ser classificada como social, ora não. Tomemos o ato de escrever como exemplo. Escrever uma carta certamente é uma ação social, pois ao fazê-lo o agente tem esperança que a carta vai ser lida por alguém. Sua ação só terá significado enquanto envolver outra pessoa. No entanto escrever uma poesia, na medida em que ela envolve apenas a satisfação ou a expressão das sensações do poeta, não é uma ação social (v. individualismo ) . A reação dos outros ao seu conteúdo não foi levada em conta para sua construção. Ainda que a carta se extravie e ninguém a leia, escrevê-la continua sendo uma ação social porque ao agente continua interessando a reação do (neste caso inexistente) leitor. Enquanto isso, um poema será entendido como produto de uma ação social apenas se ao escrevê-lo o poeta já tinha em mente mostrá-lo a outras pessoas e provocar com isso alguma manifestação. Portanto dependendo da situação em que é feita, uma ação pode ser tratada apenas em parte como social" [3].
Em suas definições, principalmente no âmbito das dominações legítimas, conteúdo este que tem capítulo exclusivo em seu livro Sociologia, Max Weber diferenciou alguns tipos de ações sociais:


  • Ações racionais: ações tomadas com base nos valores do indivíduo, mas sem pensar nas consequências e muitas vezes sem considerar se os meios escolhidos são apropriados para atingi-lo.
  • Ações instrumentais: ações planejadas e tomadas depois de avaliado o fim em relação a outros fins, e após a consideração de vários meios (e consequências) para atingi-los. Um exemplo seria a maioria das transações econômicas
  • Ações afetivas: ações tomadas devido às emoções do indivíduo, para expressar sentimentos pessoais. Como exemplos, comemorar após a vitória, chorar em um funeral seriam ações emocionais.
  • Ações tradicionais: ações baseadas na tradição enraizada. Um exemplo seria relaxar nos domingos e colocar roupas mais leves. Algumas ações tradicionais podem se tornar um artefato cultural.

"Na hierarquia sociológica, a ação social é mais avançada que o comportamento, ação e comportamento social, e é em sequência seguida por contatos sociais mais avançados, interação social e relação social" [4].
"Essa classificação baseia-se em modelos ideais, cujos exemplos puros raramente podem ser encontrados na sociedade. Muitas vezes são vários os motivos de uma ação, o que cria a possibilidade dela ser incluída em mais de um daqueles tipos. O caso de um professor é bem ilustrativo dessa complexidade: sua atitude de dar aula pode ser determinada pelo seu desejo receber o salário (ação com relação a fins), como também pela importância que ele atribui a educação (ação com relação a valores) ou ainda pelo prazer que ele sente ao ver seus alunos aprenderem (ação afetiva), ou ainda porque toda a sua família é composta de professores e ele sempre viveu no meio educacional (ação tradicional)" [3].

Re
ferências Bibliográficas:


segunda-feira, 2 de abril de 2012

ABORDAGEM SOBRE MAX WEBER.

Qual a importância de Max Weber para as Ciências Sociais?

Max Weber foi um importante intelectual alemão, sua formação não se restringia apenas aos fenômenos sociológicos. Estudou economia, história, filosofia e direito, todos em universidades na Alemanha. Foi professor de economia em duas universidades e assessor do governo (foi consultor no Tratado de Versalhes e na constituição de Weimar).
As ideias de Weber são diferentes de outros sociólogos como Durkheim. Para ele, a Sociologia compreende a ação social dos indivíduos, o sentido que cada pessoa dá a sua conduta e perceber assim a sua estrutura inteligível e não a análise das instituições sociais [1].
Seu objeto de investigação é a ação social, a conduta humana dotada de sentido, isto é, de uma justificativa subjetivamente elaborada. É o homem que dá sentido à sua ação social: estabelece a conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos [1].

Weber propunha para a pesquisa, o método compreensivo, isto é, um esforço interpretativo do passado e de sua repercussão nas características peculiares das

sociedades contemporâneas. Essa atitude de compreensão é que permite ao cientista atribuir aos fatos esparsos, um sentido social e histórico [1]. Em resumo, para Weber, a meta da sociologia é compreender a ação social do homem através da conduta individual. 

Como Weber tratava os julgamentos de valor e o saber empírico?

No que tange à objetividade do conhecimento, Weber descreve seu ponto de vista com relação aos julgamentos de valor e ao saber empírico. Para Weber os julgamentos de valor surgem das necessidades apresentadas aos cientistas na tentativa de solucionar problemas. Já o saber empírico consiste não em estabelecer normas nem criar diretrizes na tentativa de solucionar algum problema, mas sim em dizer o que pode ser feito para que uma solução seja possível. A atividade científica é então simultaneamente racional tanto com suas atividades quanto com relação à busca pela verdade. O fato de dizer a verdade é então imposta aos cientistas por uma ética absoluta, sem que qualquer condição seja necessária. 

Para Weber, o que é objetividade?

Weber afirma como princípio geral que “a análise científica da sociedade é constituída de perspectivas parciais e especiais, pontos de vista que selecionam os aspectos dotados de relevância e dignos de constituírem em objetos de estudo" [2]. A realidade social é interpretada por um conhecimento dependente de pontos de vista particulares (valores e ideais que o cientista incorpora em seu estudo). A objetividade para Weber seria um exercício da pesquisa científica isenta destas parcialidades e tem como fim compreender a sociedade, sobretudo pelo entendimento da ação do homem.

Weber acredita na objetividade do conhecimento?

Weber realiza uma grande mudança
 na visão da ciência social acreditando que ela deve ser feita não mais pelo excesso de empirismo que tanto Bacon, quanto Descartes afirmavam categoricamente. Ela deve ser feita por meio de um método que se afaste cada vez mais de leis gerais e aproxime-se da ação do individuo no social, real método de compreensão da sociedade. Partindo desta visão caso à caso , o autor consegue definir uma objetividade na ciência. Essa seria capaz de renunciar aos chamados juízos de valor e principalmente adotar a compreensão como método, sempre a partir do diálogo, o que confere dinamicidade ao se fazer ciência [3].

O que são tipos ideais?

Para definição dos tipos ideais Weber (1997, p. 166) afirma, sob um aspecto de obtenção que ocorre "mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista, e mediante o encadeamento de grande quantidade de fenômenos isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior ou menor número ou mesmo faltar por completo", além disso, sobre o ordenamento dos mesmos Weber define que ocorre "segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados, a fim de se formar um quadro homogêneo de pensamento".
De modo geral, quando se observa a definição do tipo ideal segundo os parâmetros admitidos por Weber temos que este "é um instrumento de análise sociológica para o apreendimento da sociedade por parte do cientista social com o objetivo de criar tipologias puras, destituídas de tom avaliativo, de forma a oferecer um recurso analítico baseado em conceitos, como o que é religião, burocracia, economia, capitalismo, dentre outros" [4].
Quanto as principais características do tipo ideal temos que "não é o fato de que não corresponde à realidade, mas pode ajudar em sua compreensão, estabelecido de forma racional, porém com base nas escolhas pessoais anteriores daquele que analisa. É então um conceito teórico abstrato criado com base na realidade-indução, servindo como um "guia" na variedade de fenômenos que ocorrem na realidade; por se basear na indução, dá "ênfase na caracterização sistemática dos padrões individuais concretos (característica das ciências humanas) opõe a conceituação típico-ideal à conceituação generalizadora, tal como esta é conhecida nas ciências naturais", fazendo oposição ao método comparativo dos positivistas como Émile Durkheim" [4].
No que é tangível à utilização dos tipos ideais Quintaneiro (2002, p. 103) aponta "como instrumento para conduzir o autor numa realidade complexa. O autor reconhece que seu ponto de vista é um entre outros. Cabe à Sociologia e à História, como parte das ciências da cultura, reconstruir os atos humanos, compreender o significado que estes tiveram para os agentes, e o universo de valores adotado por um grupo social ou por um indivíduo enquanto membro de uma determinada sociedade e, por fim, construir conceitos-tipo e encontrar as regras gerais do acontecer”.

Referências Bibliográficas:

  • WEBER, Max. Max Weber: sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1997. Coleção Grandes Cientistas Sociais. (Capítulo: A "Objetividade" do Conhecimento das Ciências Sociais) 
  • QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira; OLIVEIRA, Maria Gardênia Monteiro de. Um Toque de Clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
  • [1] Max Weber - Vida e Obra. Disponível em: < http://www.culturabrasil.pro.br/weber.htm   >. Acesso em 06/04/2012.
  • [2] SANTOS, Maria Elizabeth. O conceito de objetividade em Max Weber e o método nas ciências da sociedade. Revista de Desenvolvimento Econômico, vol. 1, n. 2, Junho 1999
  • [3] SEVCIUC, Bruno; TORRES, João Lucas Andrade. Max Weber e a Objetividade do Conhecimento nas Ciências Sociais. Disponível em: < http://teoriadasciencias.blogspot.com.br/2009/11/max-weber-e-objetividade-do_05.html  >. Acesso em 06/04/2012.
  • [4] Tipo Ideal. Disponível em: <  http://pt.wikipedia.org/wiki/Tipo_ideal   >. Acesso em 07/04/2012.

domingo, 1 de abril de 2012

ABORDAGEM SOBRE O CAPITAL DE KARL MARX.

Por que para Marx tudo pode ser considerado mercadoria?

Segundo Marx mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da fantasia, não altera nada na coisa. Aqui também não se trata de como a coisa satisfaz a necessidade humana, se imediatamente, como meio de subsistência, isto é, objeto de consumo, ou se indiretamente, como meio de produção. A mercadoria é a forma assumida pelos produtos e pela própria força de trabalho, e composta por dois fatores o valor de uso e o valor de troca. 
A força de trabalho é uma mercadoria que tem características peculiares: é a única que pode produzir mais riqueza do que seu próprio valor de troca.

O que é valor de uso?

O valor de uso de cada coisa consiste em sua aptidão para satisfazer as necessidades ou servir às comodidades da vida humana.
A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. Essa utilidade, porém, não paira no ar. Determinada pelas propriedades do corpo da mercadoria, ela não existe sem o mesmo. O corpo da mercadoria mesmo, como ferro, trigo, diamante etc. é, portanto, um valor de uso ou bem. Esse seu caráter não depende de se a apropriação de suas propriedades úteis custa ao homem muito ou pouco trabalho. O exame dos valores de uso pressupõe sempre sua determinação quantitativa, como dúzia de relógios, vara de linho, tonelada de ferro etc. Os valores de uso das mercadorias fornecem o material de uma disciplina própria, a merceologia. O valor de uso realiza-se somente no uso ou no consumo. Os valores de uso constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social desta. Na forma de sociedade a ser por nós examinada, eles constituem, ao mesmo tempo, os portadores materiais do — valor de troca. 

O que é valor de troca?

Assim como a própria definição já indica, de forma concisa, o valor de troca tem relação
direta com a troca de mercadorias, mas não necessariamente uma troca qualquer desprovida de uma relação lógica, pelo contrário, o conceito de Marx para valor de troca tem fundamento na troca de uma mercadoria em quantidade x, por outra mercadoria em quantidade y, no entanto, considerando que as quantidades, embora se apresentem diferentes, corroboram para um valor final que agrega ambas mercadorias, sem que haja acréscimos ou decréscimos. Para Marx (1982, p. 26) "O valor de troca aparece de início como a relação quantitativa pela qual os valores de uso de uma espécie se trocam pelos valores de uso de outra."
Uma compreensão melhor do que envolve essa relação quantitativa é possível ao analisar o posicionamento de Marx quanto aos parâmetros, como apresenta (1982, p. 26) "uma quantidade tal de mercadoria troca-se regularmente por outra tal quantidade de outra mercadoria - é seu valor de troca [...]". Salienta-se que para Marx o valor de troca não é um padrão universal em números - padrão fixo x por y tem todo lugar -, pois ele aponta para variações que são concernentes ao período e local onde ocorre a troca de mercadorias.
Uma denominação de múltiplos valores de troca é ocasionada quando se exemplificada a troca de 1Kg de trigo por 2Kg de feijão ou 3Kg de arroz e até mesmo 2,5Kg de café, exemplos categóricos usados, em similaridade, no livro Capital. Quanto a essa situação, Marx faz dois apontamentos (1982, p. 26) "[...] que os valores de troca, válidos para a mesma mercadoria, exprimem a mesma grandeza. [...] atrás do valor de troca deve existir um conteúdo de que ele é a expressão".
Para MOLLO (1991, p. 44) "o valor de troca para Marx é a expressão concreta do valor. Esse conceito impõe a necessidade da moeda numa economia mercantil. [...] Assim, a equalização dos trabalhos deve necessariamente acontecer na troca. Mas para que isto ocorra é necessário um equivalente geral". Tal ideia converge para o posicionamento do valor enquanto representação dos produtos do trabalho, sendo este definido integralmente pela troca, gerando a necessidade de mercadorias diferentes serem colocadas em relação de troca, ou comparativo, para que ocorra a consolidação do valor.

Relacione o valor de uso e o valor de troca ao trabalho humano concreto e ao trabalho humano abstrato.

O valor de uso de uma mercadoria é determinado pela sua utilidade. Por sua vez, uma mercadoria útil é produzida por um trabalho útil específico, um trabalho humano concreto, que depende da habilidade humana. O alfaiate quando produz roupas dá a elas um valor de uso. 
Ao abstraírem-se os valores de uso das mercadorias só lhe resta uma propriedade: a de ser produto de trabalho. Este não se trata de um trabalho produtivo específico como do marceneiro, do pedreiro, etc. , ou seja, de um trabalho humano concreto, mas sim de um trabalho humano em geral, um trabalho humano abstrato que independe do tratamento ou forma do esforço de trabalho. 
Segundo Marx (1982, pág. 45), no trabalho humano abstrato “os produtos passam a representar apenas a força de trabalho humana gasta em sua produção, o trabalho humano que neles se armazenou”. Um produto só possui valor pelo trabalho humano nele materializado. O valor é determinado pela quantidade de trabalho gasto durante sua produção. O valor de troca é determinado por mercadorias qualitativamente diferentes que possuem um mesmo valor (a mesma quantidade de trabalho nelas armazenado). O que varia é a relação de quantidade da mercadoria como no exemplo 20 metros de linho valem 1 casaco, o que significa que o valor de 20 metros de linho equivale ao valor de 1 casaco. 

O que Karl Marx chama de "fetichismo da mercadoria"?

Quando averiguadas, sem critérios definidos, as características da mercadorias e seus valores de uso, pode-se realizar concepções simples e desprovidas de qualquer complexidade no entendimento de sua existência, enquanto, principalmente, sua utilidade em suprir as
necessidades, no entanto, uma análise criteriosa indica maiores complexidades como é estabelecido por Marx: "A primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela nossa análise mostrámos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia de subtilezas metafísicas e de argúcias teológicas"[1].
Logo, uma mercadoria não é somente um objeto e passa a ter um aspecto voltado aos fenômenos sociais, o que amplifica sua complexidade no âmbito das análises e considerações. Segundo Marx, "o fetichismo é uma relação social entre pessoas mediatizada por coisas. O resultado é a aparência de uma relação directa entre as coisas e não entre as pessoas. As pessoas agem como coisas e as coisas, como pessoas"[2].
Quando averiguamos a produção de mercadorias temos que nela "ocorre que a troca de mercadorias é a única maneira na qual os diferentes produtores isolados de mercadorias se relacionam entre si. Dessa maneira, o valor das mercadorias é determinado de maneira independente dos produtores individuais, e cada produtor deve produzir sua mercadoria em termos de satisfação de necessidades alheias. Disso resulta que a mercadoria mesma (ou o mercado) parece determinar a vontade do produtor e não o contrário"[2].
Em toda essa concepção que relaciona a produção da mercadoria e os fenômenos sociais onde as mesmas são elementos atuantes, Marx afirma que "o fetichismo da mercadoria é algo intrínseco à produção de mercadorias, já que na sociedade capitalista, o processo de produção se autonomiza com relação à vontade do ser humano. Tal autonomia desaparecerá apenas quando o ser humano controlar de maneira consciente o processo de produção, numa livre associação de indivíduos, o que só é possível de ser feito abolindo a propriedade privada dos meios de produção e transformando-os em propriedade coletiva; acabando com o caráter mercantil dos bens e preservando somente seu valor de uso. Isso significa uma revolução nas relações de produção e de distribuição dos meios de vida. Marx também argumenta que a economia política clássica não pode sair do fetichismo da mercadoria, pois considera a produção de mercadorias como um dado natural e não como um modo de produção histórico e, portanto, transitório"[2].
Contudo, temos que a sobrestimação teórica do processo de troca sobre o processo de produção é resultado do "fetichismo que se dá na produção e na troca de mercadorias. Daí o culto ao mercado de parte de alguns economistas, que consideram a oferta e a procura como as determinações fundamentais do preço das mercadorias[2]".

Qual a relação entre "fetichismo da mercadoria" e o trabalho social?

Para Marx o valor final de cada produto produzido depende do trabalho socialmente necessário para que tal produto seja produzido. Produtos que podem ser produzidos no mesmo tempo de trabalho, assim como produtos que possuem as mesmas quantidades de trabalho possuem o mesmo valor final. "O valor de uma mercadoria está para o valor de cada uma das outras mercadorias assim como o tempo de trabalho necessário para a produção de uma está para o tempo de trabalho necessário para a produção de outra"[1]. Já o fetichismo da mercadoria estabelece que a partir do momento em que a mercadoria entra no mercado ela passa a dominar o produtor, e o produtor passa a depender das tendências criadas pelos produtos, criando-se assim um mundo de fetiches. A relação existente entre esses dois conceitos é que em uma o produto depende do tempo que o produtor leva para produzi-lo, já na outra o produto perde toda a sua dependência com relação ao produtor a partir do momento em que é comercializada.

Descreva um
exemplo atual que expressa o que Marx denominou "fetichismo da mercadoria".

O termo “fetichismo da mercadoria” é valido para qualquer tipo de produto manufaturado. Marx mostra que todos os produtos vindos deste tipo de trabalho são obras sociais, vindas de trabalho humano. Porém ao atingir o consumidor, a mercadoria se ‘humaniza’ e a relação social de trabalho necessária para o produto ser concluído desaparece.
Um exemplo é a produção de sapatos. Desde a coleta de matéria prima à confecção dos sapatos, existem muitas relações diferentes de trabalho, e mesmo assim a mercadoria é avaliada apenas pelo produto final. Os trabalhadores envolvidos vão de certa forma no sentido oposto do sapato, enquanto um se esconde no preço final, o outro se torna independente.


Referências Bibliográficas:

  • MARX, Karl. O Capital (Crítica da Economia Política). Livro 1: O processo de produção do capital. 7. ed. DIFEL Difusão Editorial S.A., 1982. vol. 1.
  • MARX, Karl. O Capital – Crítica da Economia Política. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996. vol. 1.
  • MARX, Karl. O Capital - Ed. Resumida por Julian Borchardt. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1982.
  • QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira; OLIVEIRA, Maria Gardênia Monteiro de. Um Toque de Clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
  • MOLLO, Maria de Lourdes Rollemberg. A Relação entre Moeda e Valor de Marx. Revista de Economia Política, vol. 11, n. 2. Abril-Junho, 1991.
  • [1] MARX, Karl. O Capital - Capítulo 1: Mercadoria. Disponível em: <  http://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/vol1cap01.htm >. Acesso em 29/03/2012.
  • [2] Fetichismo da Mercadoria. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Fetichismo_da_mercadoria  >. Acesso em 29/03/2012.

quinta-feira, 22 de março de 2012

ABORDAGEM SOBRE O MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA.

O que são classes sociais?

Para Marx as classes sociais eram definidas pela posição que as pessoas ocupavam na estrutura de produção em determinada sociedade, ou seja, as classes sociais eram definidas pelas relações de propriedade. Assim sendo (bem grosseiramente), durante toda a história havia as pessoas que possuíam o capital produtivo (produtores) a partir do qual exploravam a mais-valia para obter lucros a partir de pessoas desprovidas de qualquer propriedade (proletários), que vendiam assim a sua força de trabalho aos detentores do capital. Podemos então observar e afirmar (como Marx) que "a sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado"(linha 8 pág 8), ou seja, a classe dos detentores dos meios de produção e a classe dos subordinados. As classes sociais originaram as lutas de classes, que mostram históricamente que uma classe que é dominada passa lutar para assumir o poder, de modo que quando tal objetivo é atingido, cria-se assim uma outra classe que é então dominada por esta última, que então passa a querer ser dominante e assim sucessivamente. Exemplo disso são os senhores feudais, que observaram (sem nada poder fazer) a burguesia enriquecer e passar a controlar todo o comércio. Posteriormente, quando a burguesia ostenta os meios de produção surgem os operários (proletários), que dão continuidade ao ciclo referido anteriormente, buscando melhores condições de trabalho, etc. 

Quando e como surge o proletariado?

O proletariado é apontado por Marx como uma classe de operários modernos, no entanto, para se tornar possível a conceituação de tal classe é crucial averiguar o período de desenvolvimento industrial e dos instrumentos de trabalho, assim com as transformações advindas desse processo. Uma definição de TEIXEIRA (2009, p. 284) é que "O proletariado, por exemplo, enquanto fenômeno social, possui uma realidade histórica; tem história: é produto de um processo de gênese e de desenvolvimento que se articula com as “múltiplas determinações” que conformam o real. Para entendê-lo enquanto uma categoria é preciso, primeiramente, compreender seu processo histórico de formação". 
O proletariado surge em um contexto de desenvolvimento da burguesia, onde o operário é afetado por uma série de consequências resultantes do aumento do trabalho, sendo este determinado pelo desenvolvimento desenfreado das máquinas e também da divisão do trabalho. É fundamental que os mecanismos de produção sejam mais eficientes e produzam cada vez mais produtos, além de ampliar o rol do que é produzido, tudo isso impulsionado pela concorrência e todas relações de mercado. Nesse contexto, onde a burguesia torna o desenvolvimento sua principal forma de manutenção capital, apelando pelas compensações da concorrência, de forma a não perder sua estrutura de ganho, o operário torna-se vulnerável e seus salários são reduzidos à condições lamentáveis, o que fica bem visível no apontamento de Marx (1999, p. 18) "Esses operários, constrangidos a vender-se diariamente, são mercadoria, artigo de comércio como qualquer outro; em consequência, estão sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as flutuações do mercado".
O proletariado surge quando a burguesia detém do controle dos sistemas e relações de trabalho para impor aos operários, que Marx denomina de modernos, condições ínfimas de retorno correspondente a seu trabalho, como indaga Marx (1999, p.18) "com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho, e que só encontram trabalho na medida em que este aumenta o capital". 
Dadas as condições impostas pela burguesia, conforme exposto nos parágrafos anteriores, os operários se organizam e criam uma luta contra todo esse sistema que lhe afeta. No início são apenas operários de fábricas, em movimentos isolados, posteriormente são grupos maiores, organizados, e em uma escala mais ampla até outros membros da sociedade são partes integrantes desse movimento, em busca de recuperar suas condições favoráveis e romper o sistema induzido pela burguesia. Como colocar Marx (1999, p. 20) "As camadas inferiores da classe média de outrora, os pequenos industriais, os pequenos comerciantes e pessoas que possuem rendas, artesãos e camponeses, caem nas fileiras do proletariado [...] 'sendo este' recrutado em todas as classes da população".

O que gera o movimento histórico?

No Manifesto Comunista, Marx e Engels (1999, p. 7) dizem que “a história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da luta de classes”, sobretudo entre opressores e oprimidos, ou, mais especificamente no manifesto, entre burguesia e proletariado.
A burguesia é detentora dos meios de produção, como as terras e as indústrias. O proletariado constitui os trabalhadores urbanos livres, que, por não possuírem os meios de produção, têm que vender seu trabalho em troca de um salário para a sua sobrevivência.
À medida que a indústria vai se desenvolvendo com o aperfeiçoamento das máquinas, a força de trabalho dos proletários vai se equiparando e os salários, reduzindo. Com isso a vida do operário se torna cada vez mais precária e o choque de interesses, entre burguesia e proletário se forma. Os operários, então, se vêem obrigados a fortalecerem a sua classe e lutar contra a classe dominadora burguesa. 
Nessa situação propõe-se aos proletários gerarem movimentos revolucionários para a eliminação da propriedade privada e sua substituição pela propriedade da comunidade a fim de abolir o domínio burguês, destituir a burguesia e imporem uma supremacia política. Com isso espera-se, segundo Marx (1999, p. 42), “centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante” e acabar com os antagonismos de classe. 

O que são forças produtivas?

Forças produtivas (ideia central do marxismo) é um conceito que soma a força de trabalho do homem (sua energia, sua capacidade de criação, seu rendimento, seu corpo, sua inteligência) aos meios de produção, ou seja, artefatos e instrumentos de trabalho, como ferramentas, máquinas, dispositivos, técnicas, recursos naturais e etc., com o intuito de transformar os recursos naturais em bens materiais (em uma grande escala de produção). Uma vez juntos estes dois fatores (trabalho do homem + instrumentos de trabalho) basta organizá-los para assim começar a produzir artefatos utilizando-se de matérias-primas da natureza. 

O que são relações de produção?

Considerando o contexto do desenvolvimento das máquinas e da divisão do trabalho, assim como um maior aglomerado de indivíduos em um mesmo ambiente compartilhando de mesmas circunstâncias e realização padrão do trabalho, situação oriunda do surgimento das grandes indústrias criadas para produzir em longa escala em processos dinâmicos e bem divididos, pode-se conceituar, segundo Marx, que as relações de produção são as formas como os indivíduos desenvolvem suas relações de trabalho e distribuição no processo de produção e reprodução da vida material, conforme pode ser averiguado nas estruturas subsidiadas pela divisão do trabalho, cada vez mais especializado, porém, com operação de máquinas e equipamentos.
Nas definições e abordagens de Marx, enfatiza-se que "nas sociedades de classes as relações de propriedade são expressões jurídicas das relações de produção, ou seja, nas sociedades de classes, as relações de produção são relações entre classes sociais, proprietários e não-proprietários"[1].
Uma consideração importante para as relações de produção é que elas, "em conjunto com as forças produtivas, são os componentes básicos do modo de produção, que para Marx é a base material da sociedade"[1]. As relações de produção (sociais e técnicas) e as forças produtivas constituem o modo de produção, o qual se modifica historicamente (escravagista, feudal, capitalista). Isto porque a expansão constante das forças produtivas vai modificando as relações de produção, até que, num determinado nível do seu desenvolvimento, as forças produtivas entram em contradição com as relações de produção (sociais e técnicas) existentes. Tal contradição, segundo a teoria marxista, só poderia ser resolvida de maneira violenta, através da revolução social, quando o modo de produção vigente seria substituído por outro.


O que é Alienação e qual a sua relação com o trabalho?

“Alienação, para Marx, tem um sentido negativo em que o trabalho, ao invés de realizar o homem, o escraviza; ao invés de humanizá-lo, o desumaniza”[2]. 
A divisão do trabalho, fundamental para o desenvolvimento da sociedade capitalista, aliena o trabalhador que não se reconhece em uma atividade, não obtém uma visão do todo e somente percebe a parte que constitui sua força de trabalho. O trabalhador acaba desenvolvendo apenas uma habilidade (braçal ou intelectual) e isso leva a uma divisão social também.
A exploração da burguesia, na qual a riqueza que o operário gera pelo fruto de seu trabalho vai parar nas mãos de seus opressores, faz com que ele receba apenas uma pequena parcela em forma de salário, que não dá nem para adquirir aquilo que ele próprio produz enquanto os burgueses acumulam o capital. Esse caso constitui outra forma de alienação.
Resumidamente, a alienação se dá quando “o trabalhador não reconhece mais o produto de seu trabalho e não se dá conta da exploração a que é submetido”[2]. 

Por que Marx vê um papel revolucionário na burguesia?

A burguesia desempenhou na História um papel eminentemente revolucionário. Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu as relações feudais, patriarcais e idílicas. Todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus "superiores naturais", ela os despedaçou sem piedade, para só deixar subsistir, entre os homens, o laço do frio interesse, as duras exigências do "pagamento à vista". Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e brutal.
A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas veneráveis e encaradas com piedoso respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio fez seus servidores assalariados. A burguesia rasgou o véu do sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias. 

Por que o modo de produção capitalista é transitório?

Para entendermos os pensamentos de Karl Marx, é preciso recorrer ao contexto histórico da época em que essas ideias foram fundamentadas. Com relação à ideia de que o capitalismo é um modo de produção transitório, é referencia à época de transição do feudalismo para o capitalismo. A Rússia foi um país de caráter feudal até sua revolução, Marx caracterizava o feudalismo como uma involução da sociedade. Levando em base essa transição, Marx acreditava que o capitalismo é defeituoso, porém necessário para que a classe operária pudesse se consolidar e depois “evoluir” para o socialismo. 
Um bom exemplo deixado por Marx é o da Rússia e Inglaterra. A Rússia, como falado anteriormente, foi um país feudal que transitou diretamente para o Socialismo. De acordo com o filósofo, este é um erro. O ideal seria transitar um país como a Inglaterra, em que a classe operária já esta organizada. O caráter transitório do modo de produção capitalista leva em conta uma transição do feudalismo para o socialismo, porém para os demais cenários o capitalismo é dispensável.

Referências Bibliográficas:


sexta-feira, 16 de março de 2012

ABORDAGEM SOBRE KARL MARX.

Quem foi Karl Marx?

Karl Heinrich Marx, nasceu no dia 5 de maio de 1818, em Trier na Alemanha, a apenas dez quilômetros de Luxemburgo, região famosa por seus vinhedos. De origem judaica, aos dezoito anos ingressou na Universidade de Bonn para cursar direito. Nessa época Marx dividia seu tempo entre as bibliotecas e as tabernas. Um ano depois Marx transferiu-se para a Universidade de Berlim para dar continuidade ao curso de direito. Foi ali, onde Georg Hegel lecionara, que interessou-se pela filosofia, onde passou a frequentar os cursos oficiais sobre o pensamento hegeliano.

Não demorou muito, começou a fazer parte do movimento dos Jovens Hegelianos e conheceu os estudos filosóficos do humanista e moralista alemão Ludwig Feuerbach, do qual sofreu considerável influência. Nessa época, a Prússia estava em processo de industrialização e a economia estava crescendo. Em 1841 recebeu o título de doutor com uma tese que exaltava o herói grego Prometeu.
Quando deixou a Universidade de Berlim, Marx queria lecionar em alguma universidade alemã. Infelizmente no contexto histórico em que se encontrava, Frederico Guilherme IV havia se tornado kaiser da Prússia e seu regime perseguia todos aqueles que se ligavam ao pensamento dos hegelianos de esquerda.
Desempregado, Marx via no jornal um meio para expressar suas ideias e acabou conseguindo emprego como jornalista no jornal liberal A Gazeta Renana, com sede em Colônia. Obteve tamanho sucesso que, um ano mais tarde, fora promovido a editor. Em pouco tempo A Gazeta Renana tornou-se o jornal de maior circulação na Prússia, chamando a atenção das autoridades. Após sofrer diversas perseguições, em 1843 o jornal foi fechado pelas autoridades prussianas.
Em pouco tempo Marx casou-se com Jenny von Westphalen - uma namoradinha de infância - e os dois mudaram-se para Paris. Lá envolveu-se com os movimentos operários franceses aquecidos pelas ondas revolucionárias de 1789 (Revolução Francesa) e 1830 (revolução que derrubou a monarquia restaurada). Na cidade também havia muitos alemães refugiados do governo prussiano que formavam grupos de orientação socialista que Marx passou a frequentar. A partir daí, o contato com os ideais revolucionários franceses marcariam toda a sua obra.
Para sobreviver em Paris, Marx acabou empregado como editor da revista Deutsch-Französische Jahrbücher, onde encontrou Friedrich Engels que se tornaria seu maior amigo. Engels tinha uma profunda admiração pelo amigo chegando a dedicar tempo e dinheiro para ampará-lo nos momentos difíceis.
Através da Deutsch-Französische Jahrbücher os dois começaram a transmitir suas ideias radicais. Muitos dos artigos falavam da situação política da Alemanha o que fez com que Guilherme IV pressionasse as autoridades francesas para que prendessem Marx. Logo a revista foi fechada e ele foi expulso da França como bem queria o kaiser.
Engels e Marx, juntamente com sua esposa e filhos, seguiram para Bruxelas onde ingressaram na Liga Comunista. Daí surgiu um dos maiores tratados políticos: “Manifesto do Partido Comunista” que futuramente se popularizaria como “Manifesto Comunista”.
Em 1848, Marx foi expulso da Bélgica e acabou voltando para Colônia juntamente com Engels aproveitando-se da morte de Frederico Guilherme IV. Lá, iniciaram a publicação da chamada Nova Gazeta Renana e novamente foram expulsos após publicarem ataques às autoridades locais. Engels se exilou em Londres depois de receber um mandato de prisão. 
Mais tarde, Marx também se viu exilado em Londres. Lá pôde estudar as obras de Adam Smith e David Ricardo. Também nesse período finalizou a primeira edição do primeiro volume de O Capital, sua maior obra. Em condições miseráveis, Marx permaneceu em Londres até o fim de sua vida. Faleceu em 1884. 

Quem mais influenciou o pensamento de Karl Marx?

Karl Marx interessou-se por filosofia na Universidade de Berlim, na qual assistiu assiduamente aos cursos oficiais sobre a filosofia do alemão Georg Hegel. Este lecionara ali, porém morrera cinco anos antes da chegada de Marx.
Segundo Paul Strathern (2006, p. 12), "a filosofia de Hegel via o mundo e toda a história em termos de um sistema vasto e inclusivo, em permanente evolução. Essa evolução tem origem na luta entre contradições e opera dialeticamente”. No sistema dialético, dois opostos - tese e antítese - se organizam para formar uma síntese. Assim, o pensamento hegeliano expõe através da dialética a necessidade de choque de contradições para se chegar a alguma conclusão.
Num sistema dinâmico, uma síntese pode gerar outra tese, que traria outra antítese e assim por diante. De acordo com Strathern (2006, p.12) esse caminho dialético segue “até o nível mais elevado do Espírito Absoluto refletindo sobre si mesmo, que é a totalidade de tudo que existe”.
Marx não concordava com a concepção de Hegel, mas o que lhe atraía na filosofia hegeliana eram a dinâmica e a abrangência de seu pensamento, como a metodologia dialética, e não seu conteúdo em si. Apesar de Marx não concordar com a concepção de Hegel não se pode negar que este teve a maior influência em seu pensamento que culminou em seu materialismo dialético. 

Qual a relação entre Marx e a sociologia?

Karl Marx foi um dos mais importantes intelectuais das ciências sociais, seus ideais sociológicos são até hoje debatidos e defendidos por milhares de pessoas. Seu principal foco era a sociedade capitalista, além de criticar a religião e o Anarquismo. O marxismo é uma vertente de concepção materialista, com influencia da filosofia de Ludwig Feuerbach, que leva em consideração a historia da humanidade como uma abstração do real. Para Marx, o trabalho é o centro da atividade humana e suas relações de produção e sociais formam todos os conceitos da humanidade.
Marx teve influencia em diversos filósofos, entre eles Ludwig Feuerbach, Hegel, Louis Blanc e Adam Smith. Sempre foi um critico da religião, de acordo com ele, a religião não passava de um fato social e não místico, e só provocava alienação. Marx acreditava que toda revolução é violenta, porem indicava que para um novo regime era preciso tomar o velho como ponto e partida, e não começar do zero. A principal característica de seu trabalho é a “supra-filosofia”, em que teoria e pratica não podem sofrer grandes separações. 

O que é idealismo para Marx?

Marx não admitia o idealismo. Ele considerava a realidade no aspecto histórico, social. O idealismo é uma visão filosófica que tem também suas verdades. Mas é uma visão mais do pensamento amplo que às vezes não atinge a realidade. Um pensamento muito abstrato. Nem sempre sabe a diferença entre o que é uma ideia abstrata e um fato real concreto. O idealismo tem uma natureza própria e tende a ficar naquele plano, não o da vida, mas no plano do pensamento que circula por aí. 

Como Marx define materialismo?

Materialismo marxista, dialético, se funda numa causalidade linear que simplifica grosseiramente a ação da matéria sobre o espírito, não permitindo ao homem nenhuma possibilidade de liberdade. O pensamento é reduzido a uma secreção do cérebro, e a ação humana é determinada pelas condições materiais das quais não pode fugir. O materialismo histórico é a aplicação dos princípios do materialismo dialético ao campo da história. E, como o próprio nome indica, é a explicação da história por fatores materiais - econômicos, técnicos. 

O que Marx quer dizer ao afirmar que Feuerbach “não toma a própria atividade humana como atividade objetiva”?

Para respondermos esta questão primeiro precisamos definir o conceito de "práxis revolucionária", que é desenvolvido por Marx em sua crítica ao materialismo e ao idealismo. O materialismo, segundo Marx, vê os homens como determinados pelas circunstâncias (econômicas, sociais, naturais, etc) enquanto o idealismo vê os homens como determinados pelas ideias (desejos, pensamentos, vontades, etc). Segundo os materialistas as circunstâncias que fazem o homem mudar, enquanto os idealistas dizem que os homens mudam pois novas ideias, novas vontades fazem-los mudar. A crítica de Marx consiste em dizer que "A doutrina materialista de que os seres humanos são produtos das circunstâncias e da educação, [de que] seres humanos transformados são, portanto, produtos de outras circunstâncias e de uma educação mudada, esquece que as circunstâncias são transformadas precisamente pelos seres humanos e que o educador tem ele próprio de ser educado", ou seja, o idealista educador deve ser reeducado de acordo com as circunstâncias, assim como as circunstâncias são provenientes de ideias. Marx então define a práxis revolucionária como "a coincidência da transformação das circunstâncias com a atividade humana". Quando Marx diz que Feuerbach "não toma a própria atividade humana como atividade objetiva" ele quer dizer que Feuerbach não considera que as atitudes do homem (que advem de ideias) têm real importância (ou causam impacto , mudanças, avanço) na sociedade como um todo, como podemos ver na seguinte passagem: "A indústria e o comércio, a produção e a troca das necessidades da vida por um lado condicionam a distribuição, a articulação das diferentes classes sociais; e assim acontece que Feuerbach, em Manchester, por exemplo, só vê fábricas e máquinas onde há um século se viam apenas rodas de fiar e teares, ou na Campagna di Roma só descobre pastagens e pântanos onde no tempo de Augusto nada teria encontrado a não ser vinhedos e vilas de capitalistas romanos. Feuerbach fala nomeadamente da observação da ciência da natureza, menciona segredos que apenas se revelam aos olhos do físico e do químico; mas, sem a indústria e o comércio, onde estaria a ciência da natureza? Mesmo esta ciência “pura" da natureza só alcança o seu objectivo, bem como o seu material, por meio do comércio e da indústria, por meio da actividade sensível dos homens. E de tal modo esta actividade, este trabalho e esta criação sensíveis contínuos e esta produção são a base de todo o mundo sensível como ele agora existe, que, se fossem interrompidos ao menos um ano, Feuerbach não só encontraria uma enorme mudança no mundo natural como muito em breve daria pela falta de todo o mundo dos homens e da sua própria faculdade de observação — mais, da sua própria existência." 

Compare a frase de Marx “a essência humana não é uma abstração inerente a cada indivíduo” com as ideais de Durkheim sobre a relação indivíduo e sociedade.

Marx colocou em seu texto Teses sobre Feuerbach que "a essência humana não é uma abstração inerente a cada indivíduo" e ainda acrescentou que "ela é o conjunto das relações sociais", tudo isso contrapondo-se com o pensamento de Feuerbach que, na visão de Marx, resolvia a essência religiosa na essência humana. 
O posicionamento de Marx refutando os apontamentos de Feuerbach concentra-se em colocar a religião como um produto social, e que as relações entre os indivíduos são cruciais para compreensão de um único ser, o que tem forte relação com os conceitos sociológicos de Émile Durkheim sobre o indivíduo e sua relação com a sociedade. Tal conexão conceitual pode ser visualizada no âmbito das relações sociais como importante na determinação do indivíduo, haja vista que para ambos o indivíduo é resultado da sociedade em que vive.
As definições de Durkheim para fato social exprimem tal proposição quanto ao indivíduo, como pode ser observado em suas palavras "é fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que se possa ter”. A ideia de que o indivíduo é moldado pela sociedade, dado rol de características e valores que lhe é atribuído, fica evidente ao averiguarmos que para Durkheim o indivíduo tem suas peculiaridades, mas que de modo geral suas formas de agir e pensar estão condicionadas às estruturas instituídas na sociedade, quer seja moral, social ou política.
No que concerne à análise da frase de Marx em contraposição à Feuerbach, e fazendo uma relação com Émile Durkheim, de modo lacônico, é possível observar uma convergência para o modelo durkheimeano, onde a relação entre o indivíduo e a sociedade se dá via coletividade, ou seja, a sociedade tem uma série de valores, que são anteriores e exteriores ao indivíduo, e esta exerce uma pressão sob os indivíduos, fazendo-os agir de acordo com tais valores, e realizando manutenção de tal pressão por meio de sanções. Contudo, enfatiza-se que tanto o indivíduo de Durkheim como o de Marx leva em conta sua concepção e ações de acordo com a forma da sociedade em que está inserido.

Referências Bibliográficas: