domingo, 1 de abril de 2012

ABORDAGEM SOBRE O CAPITAL DE KARL MARX.

Por que para Marx tudo pode ser considerado mercadoria?

Segundo Marx mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da fantasia, não altera nada na coisa. Aqui também não se trata de como a coisa satisfaz a necessidade humana, se imediatamente, como meio de subsistência, isto é, objeto de consumo, ou se indiretamente, como meio de produção. A mercadoria é a forma assumida pelos produtos e pela própria força de trabalho, e composta por dois fatores o valor de uso e o valor de troca. 
A força de trabalho é uma mercadoria que tem características peculiares: é a única que pode produzir mais riqueza do que seu próprio valor de troca.

O que é valor de uso?

O valor de uso de cada coisa consiste em sua aptidão para satisfazer as necessidades ou servir às comodidades da vida humana.
A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. Essa utilidade, porém, não paira no ar. Determinada pelas propriedades do corpo da mercadoria, ela não existe sem o mesmo. O corpo da mercadoria mesmo, como ferro, trigo, diamante etc. é, portanto, um valor de uso ou bem. Esse seu caráter não depende de se a apropriação de suas propriedades úteis custa ao homem muito ou pouco trabalho. O exame dos valores de uso pressupõe sempre sua determinação quantitativa, como dúzia de relógios, vara de linho, tonelada de ferro etc. Os valores de uso das mercadorias fornecem o material de uma disciplina própria, a merceologia. O valor de uso realiza-se somente no uso ou no consumo. Os valores de uso constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social desta. Na forma de sociedade a ser por nós examinada, eles constituem, ao mesmo tempo, os portadores materiais do — valor de troca. 

O que é valor de troca?

Assim como a própria definição já indica, de forma concisa, o valor de troca tem relação
direta com a troca de mercadorias, mas não necessariamente uma troca qualquer desprovida de uma relação lógica, pelo contrário, o conceito de Marx para valor de troca tem fundamento na troca de uma mercadoria em quantidade x, por outra mercadoria em quantidade y, no entanto, considerando que as quantidades, embora se apresentem diferentes, corroboram para um valor final que agrega ambas mercadorias, sem que haja acréscimos ou decréscimos. Para Marx (1982, p. 26) "O valor de troca aparece de início como a relação quantitativa pela qual os valores de uso de uma espécie se trocam pelos valores de uso de outra."
Uma compreensão melhor do que envolve essa relação quantitativa é possível ao analisar o posicionamento de Marx quanto aos parâmetros, como apresenta (1982, p. 26) "uma quantidade tal de mercadoria troca-se regularmente por outra tal quantidade de outra mercadoria - é seu valor de troca [...]". Salienta-se que para Marx o valor de troca não é um padrão universal em números - padrão fixo x por y tem todo lugar -, pois ele aponta para variações que são concernentes ao período e local onde ocorre a troca de mercadorias.
Uma denominação de múltiplos valores de troca é ocasionada quando se exemplificada a troca de 1Kg de trigo por 2Kg de feijão ou 3Kg de arroz e até mesmo 2,5Kg de café, exemplos categóricos usados, em similaridade, no livro Capital. Quanto a essa situação, Marx faz dois apontamentos (1982, p. 26) "[...] que os valores de troca, válidos para a mesma mercadoria, exprimem a mesma grandeza. [...] atrás do valor de troca deve existir um conteúdo de que ele é a expressão".
Para MOLLO (1991, p. 44) "o valor de troca para Marx é a expressão concreta do valor. Esse conceito impõe a necessidade da moeda numa economia mercantil. [...] Assim, a equalização dos trabalhos deve necessariamente acontecer na troca. Mas para que isto ocorra é necessário um equivalente geral". Tal ideia converge para o posicionamento do valor enquanto representação dos produtos do trabalho, sendo este definido integralmente pela troca, gerando a necessidade de mercadorias diferentes serem colocadas em relação de troca, ou comparativo, para que ocorra a consolidação do valor.

Relacione o valor de uso e o valor de troca ao trabalho humano concreto e ao trabalho humano abstrato.

O valor de uso de uma mercadoria é determinado pela sua utilidade. Por sua vez, uma mercadoria útil é produzida por um trabalho útil específico, um trabalho humano concreto, que depende da habilidade humana. O alfaiate quando produz roupas dá a elas um valor de uso. 
Ao abstraírem-se os valores de uso das mercadorias só lhe resta uma propriedade: a de ser produto de trabalho. Este não se trata de um trabalho produtivo específico como do marceneiro, do pedreiro, etc. , ou seja, de um trabalho humano concreto, mas sim de um trabalho humano em geral, um trabalho humano abstrato que independe do tratamento ou forma do esforço de trabalho. 
Segundo Marx (1982, pág. 45), no trabalho humano abstrato “os produtos passam a representar apenas a força de trabalho humana gasta em sua produção, o trabalho humano que neles se armazenou”. Um produto só possui valor pelo trabalho humano nele materializado. O valor é determinado pela quantidade de trabalho gasto durante sua produção. O valor de troca é determinado por mercadorias qualitativamente diferentes que possuem um mesmo valor (a mesma quantidade de trabalho nelas armazenado). O que varia é a relação de quantidade da mercadoria como no exemplo 20 metros de linho valem 1 casaco, o que significa que o valor de 20 metros de linho equivale ao valor de 1 casaco. 

O que Karl Marx chama de "fetichismo da mercadoria"?

Quando averiguadas, sem critérios definidos, as características da mercadorias e seus valores de uso, pode-se realizar concepções simples e desprovidas de qualquer complexidade no entendimento de sua existência, enquanto, principalmente, sua utilidade em suprir as
necessidades, no entanto, uma análise criteriosa indica maiores complexidades como é estabelecido por Marx: "A primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa trivial e que se compreende por si mesma. Pela nossa análise mostrámos que, pelo contrário, é uma coisa muito complexa, cheia de subtilezas metafísicas e de argúcias teológicas"[1].
Logo, uma mercadoria não é somente um objeto e passa a ter um aspecto voltado aos fenômenos sociais, o que amplifica sua complexidade no âmbito das análises e considerações. Segundo Marx, "o fetichismo é uma relação social entre pessoas mediatizada por coisas. O resultado é a aparência de uma relação directa entre as coisas e não entre as pessoas. As pessoas agem como coisas e as coisas, como pessoas"[2].
Quando averiguamos a produção de mercadorias temos que nela "ocorre que a troca de mercadorias é a única maneira na qual os diferentes produtores isolados de mercadorias se relacionam entre si. Dessa maneira, o valor das mercadorias é determinado de maneira independente dos produtores individuais, e cada produtor deve produzir sua mercadoria em termos de satisfação de necessidades alheias. Disso resulta que a mercadoria mesma (ou o mercado) parece determinar a vontade do produtor e não o contrário"[2].
Em toda essa concepção que relaciona a produção da mercadoria e os fenômenos sociais onde as mesmas são elementos atuantes, Marx afirma que "o fetichismo da mercadoria é algo intrínseco à produção de mercadorias, já que na sociedade capitalista, o processo de produção se autonomiza com relação à vontade do ser humano. Tal autonomia desaparecerá apenas quando o ser humano controlar de maneira consciente o processo de produção, numa livre associação de indivíduos, o que só é possível de ser feito abolindo a propriedade privada dos meios de produção e transformando-os em propriedade coletiva; acabando com o caráter mercantil dos bens e preservando somente seu valor de uso. Isso significa uma revolução nas relações de produção e de distribuição dos meios de vida. Marx também argumenta que a economia política clássica não pode sair do fetichismo da mercadoria, pois considera a produção de mercadorias como um dado natural e não como um modo de produção histórico e, portanto, transitório"[2].
Contudo, temos que a sobrestimação teórica do processo de troca sobre o processo de produção é resultado do "fetichismo que se dá na produção e na troca de mercadorias. Daí o culto ao mercado de parte de alguns economistas, que consideram a oferta e a procura como as determinações fundamentais do preço das mercadorias[2]".

Qual a relação entre "fetichismo da mercadoria" e o trabalho social?

Para Marx o valor final de cada produto produzido depende do trabalho socialmente necessário para que tal produto seja produzido. Produtos que podem ser produzidos no mesmo tempo de trabalho, assim como produtos que possuem as mesmas quantidades de trabalho possuem o mesmo valor final. "O valor de uma mercadoria está para o valor de cada uma das outras mercadorias assim como o tempo de trabalho necessário para a produção de uma está para o tempo de trabalho necessário para a produção de outra"[1]. Já o fetichismo da mercadoria estabelece que a partir do momento em que a mercadoria entra no mercado ela passa a dominar o produtor, e o produtor passa a depender das tendências criadas pelos produtos, criando-se assim um mundo de fetiches. A relação existente entre esses dois conceitos é que em uma o produto depende do tempo que o produtor leva para produzi-lo, já na outra o produto perde toda a sua dependência com relação ao produtor a partir do momento em que é comercializada.

Descreva um
exemplo atual que expressa o que Marx denominou "fetichismo da mercadoria".

O termo “fetichismo da mercadoria” é valido para qualquer tipo de produto manufaturado. Marx mostra que todos os produtos vindos deste tipo de trabalho são obras sociais, vindas de trabalho humano. Porém ao atingir o consumidor, a mercadoria se ‘humaniza’ e a relação social de trabalho necessária para o produto ser concluído desaparece.
Um exemplo é a produção de sapatos. Desde a coleta de matéria prima à confecção dos sapatos, existem muitas relações diferentes de trabalho, e mesmo assim a mercadoria é avaliada apenas pelo produto final. Os trabalhadores envolvidos vão de certa forma no sentido oposto do sapato, enquanto um se esconde no preço final, o outro se torna independente.


Referências Bibliográficas:

  • MARX, Karl. O Capital (Crítica da Economia Política). Livro 1: O processo de produção do capital. 7. ed. DIFEL Difusão Editorial S.A., 1982. vol. 1.
  • MARX, Karl. O Capital – Crítica da Economia Política. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996. vol. 1.
  • MARX, Karl. O Capital - Ed. Resumida por Julian Borchardt. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1982.
  • QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira; OLIVEIRA, Maria Gardênia Monteiro de. Um Toque de Clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
  • MOLLO, Maria de Lourdes Rollemberg. A Relação entre Moeda e Valor de Marx. Revista de Economia Política, vol. 11, n. 2. Abril-Junho, 1991.
  • [1] MARX, Karl. O Capital - Capítulo 1: Mercadoria. Disponível em: <  http://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/vol1cap01.htm >. Acesso em 29/03/2012.
  • [2] Fetichismo da Mercadoria. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Fetichismo_da_mercadoria  >. Acesso em 29/03/2012.

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