sexta-feira, 27 de abril de 2012

ABORDAGEM DURKHEIMIANA NA PESQUISA TIC 2010.


         1. INTRODUÇÃO
Esse trabalho consiste em realizar uma análise nos dados registrados na “Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação no Brasil”, realizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil no ano de 2010. Ressalta-se que a pesquisa tem como objetivo avaliar os impactos que as novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) têm proporcionado, considerando um impacto social direto, de forma cada vez mais intensa e rápida. Esses impactos são em diversos setores da sociedade, como econômico, social, política e cultural. “Organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Banco Mundial, entre outras, trabalham de forma colaborativa na definição de metodologias, indicadores e métricas que sejam capazes de medir o acesso, o uso e a apropriação das novas tecnologias, base para o desenvolvimento da sociedade da informação” [1]. Elas são feitas anualmente em todo o Brasil, incluindo áreas urbanas e rurais, e fornece subsídios para a discussão sobre o desenvolvimento das TIC no país.
O foco do projeto é a analise de dois pontos relevantes da pesquisa. A proporção de domicílios com computadores, e a proporção de domicílios com acesso à internet. Para a realização da analise, foram usados conceitos de sociologia impostos pelo filósofo Emile Durkheim, levando em conta que esse trabalho é realizado com subsídio literário, obras do autor, além das aulas expositivas realizadas dentro do cronograma estabelecido para a disciplina Estrutura e Dinâmica Social.
Deve-se considerar a história de Émile Durkheim, onde se expõem uma aceitação na área sociológica de que ele é considerado um dos pais da Sociologia. Nasceu na França em 1858 em meio a uma família judia, entretanto não seguiu a tradição familiar e se declarou agnóstico, Durkheim acreditava que a religião se dava por fatos sociais e não divinos. “Sofreu influência de Auguste Comte e Herbert Spencer. Suas obras mais relevantes são: Da divisão do trabalho social, O suicídio e Regras do método sociológico” [2]. É necessário reforçar que, embora o período em que viveu Durkheim não tenha sido contemplado por tecnologias da informação, o seu modelo positivista de ver a ciência, tradicionalmente, e considerando sua visão de determinação de leis para a sociedade, cria-se um ambiente de estudo para qualquer período histórico, onde é possível determinar leis mediante a observação e avaliação dos fenômenos em análise.
Durkheim determinou um objeto próprio de estudo da sociologia: os fatos sociais, e tal ação é um importante elemento, no âmbito das definições para as ciências positivas, uma vez que a metodologia científica incumbia no apontamento de objetos de estudos. Por meio desta concepção Durkheim foi além de explicações filosóficas e usou de técnicas e métodos, em um sistema dedutivo e indutivo que pode ser contemplado em seu livro As Regras do Método Sociológico, para determinar um objeto próprio de estudo para a sociologia, por meio do qual poderiam ser realizados os estudos necessários para compreensão das sociedades. 
O fato social detém uma especificação condizente com todos os fenômenos que acontecem no interior das sociedades, desde que apresentem algum interesse social. Como conceituou Durkheim (1984, p. 52) “é fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que se possa ter”.
2. DOMICÍLIOS BRASILEIROS COM COMPUTADORES
A pesquisa mostra que a renda familiar é determinante na proporção de domicílios com computador, conforme sugere o gráfico da figura 1, onde o custo elevado corresponde a setenta e quatro por cento de todos os motivos que impactam na aquisição de computadores. Em outra análise universal, tem-se que quase noventa por cento das famílias com renda acima de dez salários mínimos possuíam computadores em seus lares em 2010, enquanto só seis per cento das famílias com até um salário mínimo. Os maiores motivos para a falta de computador no domicílio segundo a pesquisa são “custo elevado” e “não tem como pagar” que somam setenta e quatro por cento. A aquisição de bens de consumo como o computador depende do poder de compra do indivíduo.

Figura1 – Gráfico com os motivos para falta de computador no domicílio. – Fonte: TIC 2010

Uma pesquisa concluída e apresentada pela revista Estudos Econômicos , contemple a figura 2, revela que a renda familiar é diretamente proporcional ao nível de escolaridade. Isto significa que o poder de compra será maior quando maior for a escolaridade.
Émile Durkheim via a escola como um fator determinante de ascensão social. A educação é, assim, vista como um fato social. Para Durkheim o sistema educacional tem um papel importante na sociedade porque é o lugar por excelência no qual as pessoas são apresentadas às orientações que a sociedade espera delas. O objetivo é a formação de cidadãos integrados à sociedade.



Com relação ainda a educação, é necessário realizar uma alfabetização digital da população conforme indica a pesquisa que vinte e seis por cento não possuem computador por falta de habilidade para operá-lo. Deve-se inserir o homem em uma sociedade cada vez mais informatizada.
Segundo Durkheim (1984, p. 52), os fatos sociais são “maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, e dotados de um poder coercivo em virtude do qual se lhe impõem”. Os fatos sociais são resultados de uma consciência coletiva e são impostos ao indivíduo pela sociedade. São como leis próprias que interessam e afetam um grupo. O meio social, “através de aparelhos de coerção e da própria instituição educativa, contribui para regular, controlar e moldar permanentemente o comportamento individual, tornando os processos coletivos harmônicos e estáveis”.
O segundo motivo para a falta de computadores no domicílio que a pesquisa aponta é “não há necessidade ou interesse” que representa trinta e oito por cento. A inclusão digital observável como um fato social, em uma perspectiva completamente Durkheimiana, ainda se encontra em andamento no Brasil, dado o rol de análises dos números acima.

3. DOMICÍLIOS BRASILEIROS COM ACESSO À INTERNET

De acordo com a “Internet World Stats, 2,267 bilhões de pessoas tinham acesso à Internet em abril de 2012, o que representa 32,7% da população mundial. Segundo a pesquisa, a Europa detém pouco mais que 500 milhões de usuários, correspondendo a 61,3% da população. Mais de 65% da população da Oceania tem o acesso à Internet, mas esse percentual é reduzido para 13,5% na África. Na América Latina e Caribe, um pouco mais de 230 milhões de pessoas têm acesso à Internet (de acordo com dados de abril de 2012), sendo que quase 80 milhões são brasileiros (de acordo com dados de 31 de dezembro de 2011)” [3] [4]. “80 milhões de pessoas com acesso à internet no Brasil é um número que representa aproximadamente 41,6% da população, tendo em vista que o Brasil possui 192 376 496 habitantes estimados em 2011” [5].
Este número de 41,6% chegou a ser muito menor em anos anteriores, como podemos inferir observando a pesquisa "TIC Domicílios e Empresas 2010 - Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação no Brasil", observe figura 3, que aponta que 27% dos domicílios brasileiros possuem acesso à internet (devemos ressaltar que esta porcentagem refere-se ao número de domicílios e não de usuários).
Na pesquisa os motivos apontados pelos indivíduos para que o acesso à internet não ocorra referem-se a problemas de custo e de infra-estrutura. 49% não possuem internet devido ao alto custo, o que é um julgamento de valor segundo Durkheim, pois o preço pode ser considerado alto pela parcela da sociedade citada, enquanto não é considerado alto pelo restante; enquanto 23% não possuem internet por falta da disponibilidade na área onde tais indivíduos residem, que no caso é considerado um julgamento de realidade, pois simplesmente não há disponibilidade na área ou a área (ou até mesmo cidade) não tem cobertura fornecida pela empresa prestadora de serviços, etc.
Outras porcentagens, como pode ser observado na figura 3, representam a falta de interesse dos indivíduos (16%) e a falta de habilidades dos mesmos (12%); ambas as alegações constituem de julgamentos de valor, pois como anteriormente dito no caso das pessoas que alegavam um alto custo da internet, estas alegações são passíveis de serem aceitas por parte da sociedade, bem como são passíveis de não serem aceitas pela mesma parte da sociedade em questão.
Figura3 – Gráfico com os motivos para falta de internet no domicílio. – Fonte: TIC 2010
 O acesso de todos à internet, como citado anteriormente, faz parte de um processo de (pesquisa TIC 2010, p. 143) "universalização da banda larga e da democratização do acesso à informação", tal processo (ou podemos nos referir aos fins de tais processos) pode(em) ser visto(os) (seguindo os pensamentos de Durkheim) como um fato social tanto no âmbito científico mundial como no âmbito do indivíduo ordinário  que cresce em uma sociedade que está familiarizada e habituada com a grande quantidade de informação absorvida diariamente através de todos os meios de comunicação existentes. Podemos assim exemplificar e explanar as duas situações: Na primeira podemos dizer que em um mundo onde toda a descoberta científica e avanço tecnológico são compartilhados (para então serem aperfeiçoados), existe uma coerção de tal sociedade científica sobre o profissional que está no começo de sua carreira, de modo que tal profissional passe por uma adequação a esta sociedade naturalmente. No segundo caso o indivíduo cresce rodeado de informações, fazendo assim com que tal indivíduo esteja rapidamente familiarizado com o livre e amplo acesso à informação presente em sua sociedade.
No Brasil é necessária uma política mais eficaz que proporcione um maior número de lares conectados a rede, gerando uma maior inclusão da sociedade na internet. “Nessa sociedade, as instituições, em especial a escola, têm como função a reprodução dessa ordem e a transformação dos indivíduos para adaptarem-se ou inserirem-se nela”, apontava Durkheim (1967). Logo, o significado do termo “inclusão”, na perspectiva moderna, implica um modelo onde todos serão inseridos, introduzidos, adaptados.
A sociedade deve se mover como um todo, pois, como aponta Durkheim, a importância da insatisfação do indivíduo no processo de desenvolvimento dos modelos sociais. A dinâmica aplicada em uma comunidade limita o senso de insatisfação. Pois o convívio maior se dá entre os membros do grupo, subtraindo grande parte das referências externas que levariam o indivíduo a questionar sua posição social mediante outro modelo de vida [6].
Outra abordagem que podemos realizar é sob o ponto de vista  Durkheimiano, onde o amplo acesso à informação e o conseqüente dimensionado acesso ao mundo informacional e em redes advindos da coerção da sociedade sob o indivíduo (abordada anteriormente) fará com que a especialização torne-se ainda mais complexa, fazendo assim com que a solidariedade orgânica presente nas sociedades em questão solidifique-se cada vez mais com o passar do tempo e com o conseqüente aumento da informação disponível. Desta maneira teremos indivíduos cada vez mais especializados e assim o desenvolvimento econômico e social ficam mais prováveis de ocorrer com mais rapidez em tais sociedades.

“A ciência e a tecnologia não mais servem ao homem. Não é um meio de libertação dele, mas se tornaram um fim em si mesmo” [7]. É interessante a observação de Émile Durkheim sobre o avanço da tecnologia, que ele percebia já no século XIX: “À medida que os homens são obrigados a produzir um trabalho mais intenso, os produtos deste trabalho tornam-se mais numerosos e de qualidade superior; mas estes produtos, melhores e mais abundantes, são necessários para compensar as energias despendidas por este trabalho mais considerável (DURKHEIM, 2006, p. 110)” [7].

Como diz Durkheim: "O que, ontem, achávamos suficiente, hoje nos parece abaixo da dignidade humana; e tudo faz crer que nossas exigências serão sempre crescentes” [8].

4.   DISCUSSÃO
Para as análises realizadas nos tópicos anteriores é necessário apontar que Durkheim dividia a sociologia em três estruturas, a qual denominou de morfologia social, fisiologia social e sociologia geral, por meio das quais seria possível estudar uma determinada sociedade. Analisando criteriosamente a pesquisa TIC 2010 é possível observar, no âmbito da morfologia social, que a população brasileira constitui-se, em grande parte, urbana, e que a rural ainda não acompanha o progresso das tecnologias da informação em níveis superiores nas áreas urbanas.
Em outra dimensão de análise, quando se averigua dados de outros países, instaura-se uma caracterização puramente relacionada com fato social, pois a coerção para que o indivíduo obtenha as tecnologias de informação e comunicação (tic's) são tão intensas e dotadas de sanções espontâneas, haja vista que não obter um computador e não ter acesso à internet irá impactar na inacessibilidade a diversas atividades e conjuntos de informações, tornando o indivíduo isolado mediante um mundo que vive em rede. Em um modo lacônico, considerando que Durkheim (1984, p. 49) propõem “o fato social é reconhecível pelo poder de coerção externa que exerce [...] e a presença desse poder é reconhecível [...] pela existência de alguma sanção determinada [...] pela resistência que o fato opõe a qualquer empreendimento individual que tenta violentá-lo”, é inegável que a inclusão ao mundo das tic’s se faz coercitivo e externo ao indivíduo na sociedade atual. Um exemplo pode ser considerado nessa visão: no meio acadêmico o pesquisador que se posicionar contrário ao uso da rede irá sofrer com a sua posição ínfima mediante seus competidores, pois aqueles terão acesso a um conteúdo muito maior e compartilharão de mais conhecimento, impulsionando o progresso.
Quando o meio de avaliação passa a conter questões de interação e convivência em rede, os conceitos de Durkheim para a solidariedade orgânica tornam-se aplicáveis, pois a divisão do trabalho é um importante elemento, atuando como base, na construção das relações em rede, onde existe nítida interdependência e cada vez maior especialização. O modelo atual é uma evolução de situações que se instituíram de forma a propiciar o intenso nível de uso das tic’s, essencialmente necessário para que houvesse um direcionamento à necessidade de considerar as questões individuais, o que Durkheim (1984, p. 83) explicitaria que “a consciência coletiva deixe descoberta uma parte da consciência individual”, onde se tem a formação e ênfase da personalidade no contexto, e foca-se a importância dos indivíduos na composição desse mundo conectado em redes, ou seja, as contribuições integradas que corroboram para o quadro de instituição da sociedade em rede.
Nesse momento de análise, onde o Brasil tem por necessidade adequar suas estruturas socioeconômicas e educacionais de forma a propiciar o acesso universal de sua sociedade ao mundo em rede, corrobora para a ideia que as sociedades podem ser analisadas com leis, ou seja, proposições que enquadram resultados imediatos e que, genericamente, podem ser aplicáveis, mesmo considerando as peculiaridades de cada fato social. Para Durkheim (1984, p. 45) ““Por mais diferentes que sejam uns dos outros, os diversos tipos de fatos sociais não são portanto senão espécies de um mesmo gênero”, e assim temos que o Brasil deve se estabelecer como forma de garantir a coesão, pois a solidariedade orgânica determina uma série aspectos sociais e de convivência, que neste caso, torna-se global, enfatizando a ideia de que as tic’s colocaram em interação partes que em outros períodos eram um todo isolado, ou seja, sociedades que, no âmbito da informação, estão cada vez mais próximas e influentes umas sob as outras, e no que é tangível à esse modelo Durkheim afirma que “a coesão que resulta desta solidariedade é mais forte”.

         5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No que é tangível à análise da pesquisa TIC 2012 considerou-se a inclusão digital como um fato social como parâmetro básico em uma avaliação Durkheimiana, além de outros conceitos que o referido autor propôs para a sociologia, enfatizando os exemplos e contextos e a visão positivista da atividade.

         6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
  • COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL. Pesquisa sobre o uso de tecnologias de informação e comunicação no Brasil: TIC Domicílios e TIC Empresas 2010. São Paulo: CGIbr, 2012.
  •  DURKHEIM, Émile. Émile Durkheim: sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1984. Coleção Grandes Cientistas Sociais. (Capítulo: 1 - Divisões da Sociologia: as ciências sociais particulares; 2 - O que é fato social?)
  •  DURKHEIM, Émile. Émile Durkheim: sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1984. Coleção Grandes Cientistas Sociais. (Capítulos: Método para determinar a função da divisão do trabalho; Solidariedade Mecânica; Solidariedade Orgânica; Preponderância Progressiva da Solidariedade Orgânica; Divisão do Trabalho Anômica)
  •  [1] Comitê Gestor da Internet no Brasil. Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação no Brasil, 2010. Página 33.
  •  [2] Durkheim e a Sociologia. Disponível em: < http://www.consciencia.org/durkheim-e-a-sociologia >. Acesso realizado em: 17/02/2012.
  •  [3] Internet World Stats. Disponível em: < http://www.internetworldstats.com/stats.htm >. Acesso realizado em: 25/04/2012.
  •  [4] Internet World Stats. Disponível em: < http://www.internetworldstats.com/stats10.htm >. Acesso realizado em: 25/04/2012.
  •  [5] IBGE divulga as estimativas populacionais dos municípios em 2011. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1961&id_pagina=1&titulo=IBGE-divulga-as-estimativas-populacionais-dos-municipios-em-2011- >. Acesso realizado em: 25/04/2012.
  • [6] NAKAMURA, André Luis. “Uma comunidade unida pela comunicação e imaginação: a comunidade Yuba e sua relação com o ciberespaço”. Revista Eletrônica do Programa de Pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero, Volume nº 2, Ano 3 - Dezembro 2011 – São Paulo.
  •  [7] Inclusão digital educação tecnológica. Disponível em: < http://glauberataide.blogspot.com.br/2008/11/incluso-digital-e-educao-tecnolgica.html >. Acesso realizado em: 25/04/2012.
  •  [8] Geração Z: Uma nova forma de sociedade. Disponível em: < http://br.monografias.com/trabalhos3/geracao-z-nova-forma-sociedade/geracao-z-nova-forma-sociedade3.shtml >. Acesso realizado em: 25/04/2012.


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