domingo, 4 de março de 2012

ABORDAGEM SOBRE JULGAMENTOS: DE VALOR E REALIDADE.

O que são julgamentos de valor?

Segundo Durkheim, "Um julgamento de valor exprime a relação de uma coisa com um ideal", ou seja, "um julgamento de valor tem como objetivo dizer não aquilo que as coisas são (como o julgamento de realidade), mas sim aquilo que elas valem em relação a um sujeito consciente". Para facilitar a explicação e evitar problemas de entendimento Durkheim posteriormente redefiniu o conceito de julgamento de valor substituindo o sujeito individual pelo sujeito coletivo, fazendo assim com que a definição anterior seja em relação a sociedade. Portanto pode-se dizer que um julgamento de valor exprime a relação de uma coisa com um ideal moral, um ideal que seja comum a todas as pessoas da sociedade. É claro que os julgamentos são diferentes de acordo com os ideais a que se empregam, cabe a cada um definir os ideais que serão a base para os julgamentos a serem feitos posteriormente. 

O que são julgamentos de realidade?

Um julgamento de realidade, segundo Durkheim, representa um julgamento daquilo que existe. Por exemplo, se dissermos que o céu é azul, estamos realizando um julgamento de realidade, pois estamos apenas reafirmando aquilo que é verdade, ou seja, aquilo que é real, que existe daquela maneira. 

Qual a relação entre julgamento de valor e de realidade?

Quando averiguadas as definições de julgamento de valor e de realidade é possível identificar as relações dos mesmos, quanto às suas características no âmbito coletivo e, principalmente, no que tange à relação dos mesmos com os ideais. Levando em consideração que o primeiro julgamento é aquele em que se conceitua o que existe e o outro aponta para o valor do mesmo, tal conexão converge para uma avaliação onde não ocorre diferença da natureza, haja vista que existe uma atribuição de ideal. 
Durkheim aponta que os conceitos também são construções de espírito, e que acabam por resultar na determinação de ideais, sendo eles influentes nos valores, justificando por meio da estrutura pela qual os mesmos são constituídos: a linguagem. Abordada nos fatos sociais, a linguagem é um fenômeno necessariamente coletivo, consolidada pela sociedade nas relações e no modo de se interagir, sendo assim é reforçada a denominação de ideal coletivo, crucial para relacionar os dois julgamentos. 
Levantando uma semelhança entre eles, mesmo assim, não se pode dizer que um julgamento resulta em outro, mas tal interação entre eles é proveniente de uma única faculdade de julgar, pois como colocou Durkheim “não há uma maneira de pensar e de julgar para estabelecer existências e uma outra para avaliar valores”, reforçando que a realização dos julgamentos designa um conjunto de ideais a serem executados. 
Torna-se pertinente abordar uma questão que envolve a disjunção dos julgamentos e a sua semelhança apontada nos parágrafos anteriores: as considerações relativas às diferenças não deixam de subsistir quando enfatizamos um rol de características que direcionam para uma relação de semelhanças, uma vez que é importante compreender a estrutura de uma para com a outra, e suas relações, principalmente conectadas pela atribuição dos ideais, no âmbito da faculdade de julgar. Enquanto o julgamento de existência é apontando como determinação de como são as realidades, o outro – de valor – consiste em transfigurar as realidades com que se relacionam.

O que os julgamentos de realidade tem a ver com a Ciência Positiva?

Para Durkheim os julgamentos de realidade ou existência têm um papel fundamental que consiste em conceituar as realidades, por um processo de representatividade do que elas realmente são. Dado esse apontamento fica evidente que tal tipo de julgamento está condicionado a descrever com peculiaridades a realidade, de modo que exige e existe um processo de observação, assimilação e conceituação, ressaltando que é uma determinação onde se destaca o ideal coletivo, com um norteamento por meio da linguagem. 
Por meio da consideração anterior, baseada na literatura de Durkheim, é plausível citar um breve contexto das Ciências Positivas: em um ponto lacônico temos que elas são norteadas pelo estudo das relações existentes entre os fatos que podem ser observados, além de explicar coisas mais práticas na busca de elaborar conceitos por meio da observação e experimentação. Intercalando os conceitos de julgamentos de realidade e tal ciência fica evidente que o primeiro é um processo concernente de metodologia oriundo de um caráter positivista e que pode ser observado e explicado, consolidando uma relação de inserção do mesmo como uma perspectiva da ciência positiva. 
Em plena confirmação dos traços do positivismo em Émile Durkheim observa-se que não só o mesmo usa dos princípios e estrutura metódica dada para estudo dos fenômenos observáveis, assim como aponta para os ideais como objetos de estudo a ser analisado e explicado. Um ponto. Para Durkheim a Sociologia “vê a faculdade do ideal como uma faculdade natural, da qual procura as causas e as condições, como a finalidade, se possível, de ajudar aos homens a disciplinar o seu comportamento”. Contudo, considerando as semelhanças existentes entre os dois julgamentos, como apontado na questão anterior, é desejável correlacionar a compreensão de que o ideal é um objeto de estudo e, assim, integramos com as Ciências Positivas.

O que é moral para Durkheim?

A moral é tratada como um sistema de regras de conduta. Distinguindo as regras morais de outras regras, Durkheim observa que as regras morais possuem uma autoridade especial, ou seja, a obrigação é uma das primeiras características da moral, assim como o interesse do agente de alguma maneira, o desejo de cumprir com a obrigação, já que não existe ato realizado puramente pelo dever ou que apareça simplesmente como bom, assim como não há atos apenas desejáveis, uma vez que essas esferas se mesclam na realidade. 

O valor moral da sociedade equivale à soma dos valores morais individuais?

Durkheim entende a moral como uma regra determinante de conduta. Segundo ele, "o homem para ser moral, tem que interessar-se por algo distinto de si mesmo; é necessário pertencer a uma sociedade". A lição básica de que a moral é um fato social implica que o valor moral é algo exterior aos indivíduos.
Um indivíduo pode estabelecer valores morais que diferem de um outro indivíduo. No entanto, os indivíduos inseridos numa sociedade partilham dos mesmos valores morais, o que nos leva a inferir que os valores morais individuais, quando não têm relação íntima entre si, são discriminados pela sociedade. Salienta-se, portanto, que para Durkheim o valor moral da sociedade não é uma soma dos valores morais individuais, mas sim uma síntese destes.

Quais exemplos que podemos dar da visão Durkheimeana da relação entre moral e sociedade?

Para Durkheim, fora da sociedade, o homem é apenas um animal selvagem que só se tornou humano devido às habilidades sociais que desenvolveu. O homem fora da sociedade concebe diferentes ideais, porem é a sociedade que o impulsiona e lhe fornece os meios para erguê-los. Um dos exemplos que Durkheim cita em seu texto é o das festas religiosas que “pode reaproximar os homens e fazê-los comungar de uma mesma vida intelectual e moral. Contudo, Durkheim propõe que não há sociedade sem moral, e que esta atua em um sistema de coesão da sociedade, mantendo um equilíbrio necessário.

Referências Bibliográficas:

  • DURKHEIM, Émile. Émile Durkheim: sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1984. Coleção Grandes Cientistas Sociais. (Capítulo: 1 - Divisões da Sociologia: as ciências sociais particulares; 2 - O que é fato social?)
  • MELO, Marina Félix de. A Moral em Émile Durkheim. Trabalho de pós-graduação na Universidade Federal de Pernambuco. Recife: 2009.
  • SCHNEIDER, Sergio; SCHIMITT, Cláudia Job. O uso do método comparativo nas Ciências Sociais. Cadernos de Sociologia, Porto Alegre, v. 9, p. 49-87, 1998.
  • A Sociologia em Émile Durkheim. Disponível em: < http://www.culturabrasil.pro.br/durkheim.htm >. Acesso em: 03/03/2012.

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