quinta-feira, 22 de março de 2012

ABORDAGEM SOBRE O MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA.

O que são classes sociais?

Para Marx as classes sociais eram definidas pela posição que as pessoas ocupavam na estrutura de produção em determinada sociedade, ou seja, as classes sociais eram definidas pelas relações de propriedade. Assim sendo (bem grosseiramente), durante toda a história havia as pessoas que possuíam o capital produtivo (produtores) a partir do qual exploravam a mais-valia para obter lucros a partir de pessoas desprovidas de qualquer propriedade (proletários), que vendiam assim a sua força de trabalho aos detentores do capital. Podemos então observar e afirmar (como Marx) que "a sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado"(linha 8 pág 8), ou seja, a classe dos detentores dos meios de produção e a classe dos subordinados. As classes sociais originaram as lutas de classes, que mostram históricamente que uma classe que é dominada passa lutar para assumir o poder, de modo que quando tal objetivo é atingido, cria-se assim uma outra classe que é então dominada por esta última, que então passa a querer ser dominante e assim sucessivamente. Exemplo disso são os senhores feudais, que observaram (sem nada poder fazer) a burguesia enriquecer e passar a controlar todo o comércio. Posteriormente, quando a burguesia ostenta os meios de produção surgem os operários (proletários), que dão continuidade ao ciclo referido anteriormente, buscando melhores condições de trabalho, etc. 

Quando e como surge o proletariado?

O proletariado é apontado por Marx como uma classe de operários modernos, no entanto, para se tornar possível a conceituação de tal classe é crucial averiguar o período de desenvolvimento industrial e dos instrumentos de trabalho, assim com as transformações advindas desse processo. Uma definição de TEIXEIRA (2009, p. 284) é que "O proletariado, por exemplo, enquanto fenômeno social, possui uma realidade histórica; tem história: é produto de um processo de gênese e de desenvolvimento que se articula com as “múltiplas determinações” que conformam o real. Para entendê-lo enquanto uma categoria é preciso, primeiramente, compreender seu processo histórico de formação". 
O proletariado surge em um contexto de desenvolvimento da burguesia, onde o operário é afetado por uma série de consequências resultantes do aumento do trabalho, sendo este determinado pelo desenvolvimento desenfreado das máquinas e também da divisão do trabalho. É fundamental que os mecanismos de produção sejam mais eficientes e produzam cada vez mais produtos, além de ampliar o rol do que é produzido, tudo isso impulsionado pela concorrência e todas relações de mercado. Nesse contexto, onde a burguesia torna o desenvolvimento sua principal forma de manutenção capital, apelando pelas compensações da concorrência, de forma a não perder sua estrutura de ganho, o operário torna-se vulnerável e seus salários são reduzidos à condições lamentáveis, o que fica bem visível no apontamento de Marx (1999, p. 18) "Esses operários, constrangidos a vender-se diariamente, são mercadoria, artigo de comércio como qualquer outro; em consequência, estão sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as flutuações do mercado".
O proletariado surge quando a burguesia detém do controle dos sistemas e relações de trabalho para impor aos operários, que Marx denomina de modernos, condições ínfimas de retorno correspondente a seu trabalho, como indaga Marx (1999, p.18) "com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho, e que só encontram trabalho na medida em que este aumenta o capital". 
Dadas as condições impostas pela burguesia, conforme exposto nos parágrafos anteriores, os operários se organizam e criam uma luta contra todo esse sistema que lhe afeta. No início são apenas operários de fábricas, em movimentos isolados, posteriormente são grupos maiores, organizados, e em uma escala mais ampla até outros membros da sociedade são partes integrantes desse movimento, em busca de recuperar suas condições favoráveis e romper o sistema induzido pela burguesia. Como colocar Marx (1999, p. 20) "As camadas inferiores da classe média de outrora, os pequenos industriais, os pequenos comerciantes e pessoas que possuem rendas, artesãos e camponeses, caem nas fileiras do proletariado [...] 'sendo este' recrutado em todas as classes da população".

O que gera o movimento histórico?

No Manifesto Comunista, Marx e Engels (1999, p. 7) dizem que “a história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da luta de classes”, sobretudo entre opressores e oprimidos, ou, mais especificamente no manifesto, entre burguesia e proletariado.
A burguesia é detentora dos meios de produção, como as terras e as indústrias. O proletariado constitui os trabalhadores urbanos livres, que, por não possuírem os meios de produção, têm que vender seu trabalho em troca de um salário para a sua sobrevivência.
À medida que a indústria vai se desenvolvendo com o aperfeiçoamento das máquinas, a força de trabalho dos proletários vai se equiparando e os salários, reduzindo. Com isso a vida do operário se torna cada vez mais precária e o choque de interesses, entre burguesia e proletário se forma. Os operários, então, se vêem obrigados a fortalecerem a sua classe e lutar contra a classe dominadora burguesa. 
Nessa situação propõe-se aos proletários gerarem movimentos revolucionários para a eliminação da propriedade privada e sua substituição pela propriedade da comunidade a fim de abolir o domínio burguês, destituir a burguesia e imporem uma supremacia política. Com isso espera-se, segundo Marx (1999, p. 42), “centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante” e acabar com os antagonismos de classe. 

O que são forças produtivas?

Forças produtivas (ideia central do marxismo) é um conceito que soma a força de trabalho do homem (sua energia, sua capacidade de criação, seu rendimento, seu corpo, sua inteligência) aos meios de produção, ou seja, artefatos e instrumentos de trabalho, como ferramentas, máquinas, dispositivos, técnicas, recursos naturais e etc., com o intuito de transformar os recursos naturais em bens materiais (em uma grande escala de produção). Uma vez juntos estes dois fatores (trabalho do homem + instrumentos de trabalho) basta organizá-los para assim começar a produzir artefatos utilizando-se de matérias-primas da natureza. 

O que são relações de produção?

Considerando o contexto do desenvolvimento das máquinas e da divisão do trabalho, assim como um maior aglomerado de indivíduos em um mesmo ambiente compartilhando de mesmas circunstâncias e realização padrão do trabalho, situação oriunda do surgimento das grandes indústrias criadas para produzir em longa escala em processos dinâmicos e bem divididos, pode-se conceituar, segundo Marx, que as relações de produção são as formas como os indivíduos desenvolvem suas relações de trabalho e distribuição no processo de produção e reprodução da vida material, conforme pode ser averiguado nas estruturas subsidiadas pela divisão do trabalho, cada vez mais especializado, porém, com operação de máquinas e equipamentos.
Nas definições e abordagens de Marx, enfatiza-se que "nas sociedades de classes as relações de propriedade são expressões jurídicas das relações de produção, ou seja, nas sociedades de classes, as relações de produção são relações entre classes sociais, proprietários e não-proprietários"[1].
Uma consideração importante para as relações de produção é que elas, "em conjunto com as forças produtivas, são os componentes básicos do modo de produção, que para Marx é a base material da sociedade"[1]. As relações de produção (sociais e técnicas) e as forças produtivas constituem o modo de produção, o qual se modifica historicamente (escravagista, feudal, capitalista). Isto porque a expansão constante das forças produtivas vai modificando as relações de produção, até que, num determinado nível do seu desenvolvimento, as forças produtivas entram em contradição com as relações de produção (sociais e técnicas) existentes. Tal contradição, segundo a teoria marxista, só poderia ser resolvida de maneira violenta, através da revolução social, quando o modo de produção vigente seria substituído por outro.


O que é Alienação e qual a sua relação com o trabalho?

“Alienação, para Marx, tem um sentido negativo em que o trabalho, ao invés de realizar o homem, o escraviza; ao invés de humanizá-lo, o desumaniza”[2]. 
A divisão do trabalho, fundamental para o desenvolvimento da sociedade capitalista, aliena o trabalhador que não se reconhece em uma atividade, não obtém uma visão do todo e somente percebe a parte que constitui sua força de trabalho. O trabalhador acaba desenvolvendo apenas uma habilidade (braçal ou intelectual) e isso leva a uma divisão social também.
A exploração da burguesia, na qual a riqueza que o operário gera pelo fruto de seu trabalho vai parar nas mãos de seus opressores, faz com que ele receba apenas uma pequena parcela em forma de salário, que não dá nem para adquirir aquilo que ele próprio produz enquanto os burgueses acumulam o capital. Esse caso constitui outra forma de alienação.
Resumidamente, a alienação se dá quando “o trabalhador não reconhece mais o produto de seu trabalho e não se dá conta da exploração a que é submetido”[2]. 

Por que Marx vê um papel revolucionário na burguesia?

A burguesia desempenhou na História um papel eminentemente revolucionário. Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu as relações feudais, patriarcais e idílicas. Todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus "superiores naturais", ela os despedaçou sem piedade, para só deixar subsistir, entre os homens, o laço do frio interesse, as duras exigências do "pagamento à vista". Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e brutal.
A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas veneráveis e encaradas com piedoso respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio fez seus servidores assalariados. A burguesia rasgou o véu do sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias. 

Por que o modo de produção capitalista é transitório?

Para entendermos os pensamentos de Karl Marx, é preciso recorrer ao contexto histórico da época em que essas ideias foram fundamentadas. Com relação à ideia de que o capitalismo é um modo de produção transitório, é referencia à época de transição do feudalismo para o capitalismo. A Rússia foi um país de caráter feudal até sua revolução, Marx caracterizava o feudalismo como uma involução da sociedade. Levando em base essa transição, Marx acreditava que o capitalismo é defeituoso, porém necessário para que a classe operária pudesse se consolidar e depois “evoluir” para o socialismo. 
Um bom exemplo deixado por Marx é o da Rússia e Inglaterra. A Rússia, como falado anteriormente, foi um país feudal que transitou diretamente para o Socialismo. De acordo com o filósofo, este é um erro. O ideal seria transitar um país como a Inglaterra, em que a classe operária já esta organizada. O caráter transitório do modo de produção capitalista leva em conta uma transição do feudalismo para o socialismo, porém para os demais cenários o capitalismo é dispensável.

Referências Bibliográficas:


sexta-feira, 16 de março de 2012

ABORDAGEM SOBRE KARL MARX.

Quem foi Karl Marx?

Karl Heinrich Marx, nasceu no dia 5 de maio de 1818, em Trier na Alemanha, a apenas dez quilômetros de Luxemburgo, região famosa por seus vinhedos. De origem judaica, aos dezoito anos ingressou na Universidade de Bonn para cursar direito. Nessa época Marx dividia seu tempo entre as bibliotecas e as tabernas. Um ano depois Marx transferiu-se para a Universidade de Berlim para dar continuidade ao curso de direito. Foi ali, onde Georg Hegel lecionara, que interessou-se pela filosofia, onde passou a frequentar os cursos oficiais sobre o pensamento hegeliano.

Não demorou muito, começou a fazer parte do movimento dos Jovens Hegelianos e conheceu os estudos filosóficos do humanista e moralista alemão Ludwig Feuerbach, do qual sofreu considerável influência. Nessa época, a Prússia estava em processo de industrialização e a economia estava crescendo. Em 1841 recebeu o título de doutor com uma tese que exaltava o herói grego Prometeu.
Quando deixou a Universidade de Berlim, Marx queria lecionar em alguma universidade alemã. Infelizmente no contexto histórico em que se encontrava, Frederico Guilherme IV havia se tornado kaiser da Prússia e seu regime perseguia todos aqueles que se ligavam ao pensamento dos hegelianos de esquerda.
Desempregado, Marx via no jornal um meio para expressar suas ideias e acabou conseguindo emprego como jornalista no jornal liberal A Gazeta Renana, com sede em Colônia. Obteve tamanho sucesso que, um ano mais tarde, fora promovido a editor. Em pouco tempo A Gazeta Renana tornou-se o jornal de maior circulação na Prússia, chamando a atenção das autoridades. Após sofrer diversas perseguições, em 1843 o jornal foi fechado pelas autoridades prussianas.
Em pouco tempo Marx casou-se com Jenny von Westphalen - uma namoradinha de infância - e os dois mudaram-se para Paris. Lá envolveu-se com os movimentos operários franceses aquecidos pelas ondas revolucionárias de 1789 (Revolução Francesa) e 1830 (revolução que derrubou a monarquia restaurada). Na cidade também havia muitos alemães refugiados do governo prussiano que formavam grupos de orientação socialista que Marx passou a frequentar. A partir daí, o contato com os ideais revolucionários franceses marcariam toda a sua obra.
Para sobreviver em Paris, Marx acabou empregado como editor da revista Deutsch-Französische Jahrbücher, onde encontrou Friedrich Engels que se tornaria seu maior amigo. Engels tinha uma profunda admiração pelo amigo chegando a dedicar tempo e dinheiro para ampará-lo nos momentos difíceis.
Através da Deutsch-Französische Jahrbücher os dois começaram a transmitir suas ideias radicais. Muitos dos artigos falavam da situação política da Alemanha o que fez com que Guilherme IV pressionasse as autoridades francesas para que prendessem Marx. Logo a revista foi fechada e ele foi expulso da França como bem queria o kaiser.
Engels e Marx, juntamente com sua esposa e filhos, seguiram para Bruxelas onde ingressaram na Liga Comunista. Daí surgiu um dos maiores tratados políticos: “Manifesto do Partido Comunista” que futuramente se popularizaria como “Manifesto Comunista”.
Em 1848, Marx foi expulso da Bélgica e acabou voltando para Colônia juntamente com Engels aproveitando-se da morte de Frederico Guilherme IV. Lá, iniciaram a publicação da chamada Nova Gazeta Renana e novamente foram expulsos após publicarem ataques às autoridades locais. Engels se exilou em Londres depois de receber um mandato de prisão. 
Mais tarde, Marx também se viu exilado em Londres. Lá pôde estudar as obras de Adam Smith e David Ricardo. Também nesse período finalizou a primeira edição do primeiro volume de O Capital, sua maior obra. Em condições miseráveis, Marx permaneceu em Londres até o fim de sua vida. Faleceu em 1884. 

Quem mais influenciou o pensamento de Karl Marx?

Karl Marx interessou-se por filosofia na Universidade de Berlim, na qual assistiu assiduamente aos cursos oficiais sobre a filosofia do alemão Georg Hegel. Este lecionara ali, porém morrera cinco anos antes da chegada de Marx.
Segundo Paul Strathern (2006, p. 12), "a filosofia de Hegel via o mundo e toda a história em termos de um sistema vasto e inclusivo, em permanente evolução. Essa evolução tem origem na luta entre contradições e opera dialeticamente”. No sistema dialético, dois opostos - tese e antítese - se organizam para formar uma síntese. Assim, o pensamento hegeliano expõe através da dialética a necessidade de choque de contradições para se chegar a alguma conclusão.
Num sistema dinâmico, uma síntese pode gerar outra tese, que traria outra antítese e assim por diante. De acordo com Strathern (2006, p.12) esse caminho dialético segue “até o nível mais elevado do Espírito Absoluto refletindo sobre si mesmo, que é a totalidade de tudo que existe”.
Marx não concordava com a concepção de Hegel, mas o que lhe atraía na filosofia hegeliana eram a dinâmica e a abrangência de seu pensamento, como a metodologia dialética, e não seu conteúdo em si. Apesar de Marx não concordar com a concepção de Hegel não se pode negar que este teve a maior influência em seu pensamento que culminou em seu materialismo dialético. 

Qual a relação entre Marx e a sociologia?

Karl Marx foi um dos mais importantes intelectuais das ciências sociais, seus ideais sociológicos são até hoje debatidos e defendidos por milhares de pessoas. Seu principal foco era a sociedade capitalista, além de criticar a religião e o Anarquismo. O marxismo é uma vertente de concepção materialista, com influencia da filosofia de Ludwig Feuerbach, que leva em consideração a historia da humanidade como uma abstração do real. Para Marx, o trabalho é o centro da atividade humana e suas relações de produção e sociais formam todos os conceitos da humanidade.
Marx teve influencia em diversos filósofos, entre eles Ludwig Feuerbach, Hegel, Louis Blanc e Adam Smith. Sempre foi um critico da religião, de acordo com ele, a religião não passava de um fato social e não místico, e só provocava alienação. Marx acreditava que toda revolução é violenta, porem indicava que para um novo regime era preciso tomar o velho como ponto e partida, e não começar do zero. A principal característica de seu trabalho é a “supra-filosofia”, em que teoria e pratica não podem sofrer grandes separações. 

O que é idealismo para Marx?

Marx não admitia o idealismo. Ele considerava a realidade no aspecto histórico, social. O idealismo é uma visão filosófica que tem também suas verdades. Mas é uma visão mais do pensamento amplo que às vezes não atinge a realidade. Um pensamento muito abstrato. Nem sempre sabe a diferença entre o que é uma ideia abstrata e um fato real concreto. O idealismo tem uma natureza própria e tende a ficar naquele plano, não o da vida, mas no plano do pensamento que circula por aí. 

Como Marx define materialismo?

Materialismo marxista, dialético, se funda numa causalidade linear que simplifica grosseiramente a ação da matéria sobre o espírito, não permitindo ao homem nenhuma possibilidade de liberdade. O pensamento é reduzido a uma secreção do cérebro, e a ação humana é determinada pelas condições materiais das quais não pode fugir. O materialismo histórico é a aplicação dos princípios do materialismo dialético ao campo da história. E, como o próprio nome indica, é a explicação da história por fatores materiais - econômicos, técnicos. 

O que Marx quer dizer ao afirmar que Feuerbach “não toma a própria atividade humana como atividade objetiva”?

Para respondermos esta questão primeiro precisamos definir o conceito de "práxis revolucionária", que é desenvolvido por Marx em sua crítica ao materialismo e ao idealismo. O materialismo, segundo Marx, vê os homens como determinados pelas circunstâncias (econômicas, sociais, naturais, etc) enquanto o idealismo vê os homens como determinados pelas ideias (desejos, pensamentos, vontades, etc). Segundo os materialistas as circunstâncias que fazem o homem mudar, enquanto os idealistas dizem que os homens mudam pois novas ideias, novas vontades fazem-los mudar. A crítica de Marx consiste em dizer que "A doutrina materialista de que os seres humanos são produtos das circunstâncias e da educação, [de que] seres humanos transformados são, portanto, produtos de outras circunstâncias e de uma educação mudada, esquece que as circunstâncias são transformadas precisamente pelos seres humanos e que o educador tem ele próprio de ser educado", ou seja, o idealista educador deve ser reeducado de acordo com as circunstâncias, assim como as circunstâncias são provenientes de ideias. Marx então define a práxis revolucionária como "a coincidência da transformação das circunstâncias com a atividade humana". Quando Marx diz que Feuerbach "não toma a própria atividade humana como atividade objetiva" ele quer dizer que Feuerbach não considera que as atitudes do homem (que advem de ideias) têm real importância (ou causam impacto , mudanças, avanço) na sociedade como um todo, como podemos ver na seguinte passagem: "A indústria e o comércio, a produção e a troca das necessidades da vida por um lado condicionam a distribuição, a articulação das diferentes classes sociais; e assim acontece que Feuerbach, em Manchester, por exemplo, só vê fábricas e máquinas onde há um século se viam apenas rodas de fiar e teares, ou na Campagna di Roma só descobre pastagens e pântanos onde no tempo de Augusto nada teria encontrado a não ser vinhedos e vilas de capitalistas romanos. Feuerbach fala nomeadamente da observação da ciência da natureza, menciona segredos que apenas se revelam aos olhos do físico e do químico; mas, sem a indústria e o comércio, onde estaria a ciência da natureza? Mesmo esta ciência “pura" da natureza só alcança o seu objectivo, bem como o seu material, por meio do comércio e da indústria, por meio da actividade sensível dos homens. E de tal modo esta actividade, este trabalho e esta criação sensíveis contínuos e esta produção são a base de todo o mundo sensível como ele agora existe, que, se fossem interrompidos ao menos um ano, Feuerbach não só encontraria uma enorme mudança no mundo natural como muito em breve daria pela falta de todo o mundo dos homens e da sua própria faculdade de observação — mais, da sua própria existência." 

Compare a frase de Marx “a essência humana não é uma abstração inerente a cada indivíduo” com as ideais de Durkheim sobre a relação indivíduo e sociedade.

Marx colocou em seu texto Teses sobre Feuerbach que "a essência humana não é uma abstração inerente a cada indivíduo" e ainda acrescentou que "ela é o conjunto das relações sociais", tudo isso contrapondo-se com o pensamento de Feuerbach que, na visão de Marx, resolvia a essência religiosa na essência humana. 
O posicionamento de Marx refutando os apontamentos de Feuerbach concentra-se em colocar a religião como um produto social, e que as relações entre os indivíduos são cruciais para compreensão de um único ser, o que tem forte relação com os conceitos sociológicos de Émile Durkheim sobre o indivíduo e sua relação com a sociedade. Tal conexão conceitual pode ser visualizada no âmbito das relações sociais como importante na determinação do indivíduo, haja vista que para ambos o indivíduo é resultado da sociedade em que vive.
As definições de Durkheim para fato social exprimem tal proposição quanto ao indivíduo, como pode ser observado em suas palavras "é fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que se possa ter”. A ideia de que o indivíduo é moldado pela sociedade, dado rol de características e valores que lhe é atribuído, fica evidente ao averiguarmos que para Durkheim o indivíduo tem suas peculiaridades, mas que de modo geral suas formas de agir e pensar estão condicionadas às estruturas instituídas na sociedade, quer seja moral, social ou política.
No que concerne à análise da frase de Marx em contraposição à Feuerbach, e fazendo uma relação com Émile Durkheim, de modo lacônico, é possível observar uma convergência para o modelo durkheimeano, onde a relação entre o indivíduo e a sociedade se dá via coletividade, ou seja, a sociedade tem uma série de valores, que são anteriores e exteriores ao indivíduo, e esta exerce uma pressão sob os indivíduos, fazendo-os agir de acordo com tais valores, e realizando manutenção de tal pressão por meio de sanções. Contudo, enfatiza-se que tanto o indivíduo de Durkheim como o de Marx leva em conta sua concepção e ações de acordo com a forma da sociedade em que está inserido.

Referências Bibliográficas:


domingo, 11 de março de 2012

ABORDAGEM SOBRE A DIVISÃO DO TRABALHO.

Qual a relação entre independência dos indivíduos e a divisão do trabalho social?

Realizar uma relação entre independência dos indivíduos e a divisão do trabalho social culmina na necessidade de avaliar os conceitos de Durkheim sobre os dois tipos de solidariedade. Considerando o âmbito da solidariedade mecânica, onde os indivíduos compartilham de uma mesma forma de agir e pensar determinada pela sociedade, sendo destituída qualquer personalidade própria para o indivíduo, fica comprometida a relação, haja vista que a divisão do trabalho implicaria em formas diferenciadas de agir e pensar, dado um grande rol de especificidades, o qual não poderia ser acompanhado por todos indivíduos, implicando na falta da coesão social e desestabilizando a sociedade, porém tal resultado é proveniente de uma análise estruturada pela relação e união graças à semelhança. Em outro contexto, onde passamos a averiguar a solidariedade orgânica, quando ocorre uma expansão do individualismo, a relação entre os indivíduos é pautada pela interdependência, oriunda da divisão do trabalho. Considerando as explanações de Durkheim para a sociedade onde existe a solidariedade orgânica, a individualidade do todo tem relação direta com das partes, inclusive sendo crucial para que haja maior funcionalidade no trabalho social, político, administrativo e também econômico.  Nesse contexto Durkheim (1984, p. 91) propõem: "não é mais a consanguinidade, real ou fictícia, que marca o lugar de cada indivíduo, mas a função que ele desempenha", ou seja, a divisão do trabalho e suas inúmeras atividades especiais tornam cada indivíduo diferenciado, no entanto, o grande rol de atividades fazem parte de um único corpo: a sociedade. Tais atividades precisam funcionar como modelos integrados, onde não existe a possibilidade de isolamento, o que faz ser verificada uma interdependência entre os indivíduos, por meio da qual as suas diferenças individuais os fazem estar unidos culminando na coesão social, sendo esta mais fortalecida que as presentes nas relações de união pela semelhança.

O que é solidariedade e qual o seu papel social?

Segundo Durkheim, duas formas de solidariedade social podem ser constatadas: a solidariedade mecânica, típica das sociedades pré-capitalistas, onde os indivíduos se identificam através da família, da religião, da tradição, dos costumes. É uma sociedade que tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciam. Reconhecem os mesmos valores, os mesmos sentimentos, os mesmos objetos sagrados, porque pertencem a uma coletividade. E a solidariedade orgânica, característica das sociedades capitalistas, onde, através da divisão do trabalho social, os indivíduos tornam-se interdependentes, garantindo, assim, a união social, mas não pelos costumes, tradições, etc. Os indivíduos não se assemelham, são diferentes e necessários, como os órgãos de um ser vivo. Assim, o efeito mais importante da divisão do trabalho não é o aumento da produtividade, mas a solidariedade que gera entre os homens.

O que é solidariedade mecânica?

A compreensão da denominação mecânica para esse tipo de solidariedade é um tanto quanto crucial para disjungir do outro modelo. Durkheim (1984, p. 83) aponta para essa denominação “por analogia com a coesão que une os elementos dos corpos brutos, em oposição àquela que faz a unidade dos corpos vivos”, ficando evidente o movimento único da sociedade, onde a consciência individual é mero produto do tipo coletivo. Tal solidariedade, segundo Durkheim, advinda da fase primitiva da organização social, é observada nas sociedades em que as mesmas noções e valores sociais (como os que se referem às crenças religiosas, comportamento em grupo, semelhanças psíquicas e até mesmo físicas) são compartilhados por todos os indivíduos.
Enfatiza-se que na solidariedade mecânica a sociedade é um tipo coletivo, ou seja, os indivíduos não possuem uma personalidade própria, principalmente em uma fase máxima de caracterização deste aspecto unilateral de agir e pensar, pois todo seu modo de ser é coletivo, designado pela sociedade, ou seja, a consciência coletiva é tão intensa que cria um padrão único aos indivíduos. Este tipo de solidariedade prevalece nas sociedades "arcaicas" ou "primitivas", sendo exemplificadas por Durkheim no texto-base desse trabalho como sociedades tribais. Segundo Durkheim, a correspondência de valores entre os indivíduos destas sociedades que assegura a coesão social.


Onde encontramos a solidariedade mecânica?

A solidariedade mecânica é a mais primitiva, encontra-se em sociedades arcaicas, como tribos indígenas, em que todos os membros possuem semelhanças sociais e mentais, por vezes até físicas. Apesar de serem consideradas menos desenvolvidas do que as sociedades orgânicas, a mecânica mesmo sem a divisão social do trabalho consegue assegurar a coesão social. Isso se deve às semelhanças entre todos os indivíduos.

Explique se a solidariedade diminui ou cresce conforme aumenta o excedente produtivo de uma dada sociedade.

As diferenças sociais geradas pela divisão social do trabalho unem os indivíduos pela necessidade de troca de serviços. A magnitude da solidariedade independe do excedente produtivo. Este último é característica da divisão de trabalho capitalista estudada por Karl Marx e causa uma segmentação da sociedade entre trabalhadores e membros da sociedade que se apropriam dos meios de produção.

O que é solidariedade orgânica?

A solidariedade é um fato social e sua compreensão depende da averiguação e estudo dos seus efeitos na sociedade, via observação e caracterização delineada, por meio das quais é possível estabelecer parâmetros e conceitos. Dadas as considerações de Durkheim para a divisão da solidariedade, é necessário averiguá-las considerando suas posições mediantes uma mesma estrutura analisada, como pode ser observável no âmbito do que é agregado. Na solidariedade mecânica as semelhanças dos indivíduos compõem a união dos mesmos, tornando-os partes integradas de um todo absoluto, no entanto, sem qualquer interação, a não ser aquelas exteriores determinadas pela sociedade. Entretanto, a solidariedade orgânica converge para importância das diferenças dos indivíduos, sendo que estas são provenientes da divisão do trabalho.
Durkheim (1984, p. 84) aponta que: "cada órgão, com efeito, tem sua fisionomia especial, sua autonomia e, por conseguinte, a unidade do organismo é tanto maior quanto a individualização das partes seja mais acentuada. Em razão dessa analogia, propomos chamar orgânica a solidariedade devida à divisão do trabalho". Pelo apontamento destaca-se a influência da divisão do trabalho na determinação desse modelo organicista concebido para a sociedade. Torna-se fundamental, para compreender tal solidariedade, definir a divisão do trabalho e suas peculiaridades nesse processo.
Segundo texto-aula de Pereira, "a origem da divisão do trabalho deve ser encontrada na morfologia da sociedade, na distribuição da população e na qualidade das relações sociais." Por meio de tal abordagem considera-se que o crescimento da divisão do trabalho está vinculado ao aumento no número de indivíduos que compõem a sociedade, tendo como consequência aumento das comunicações e interações entre os mesmos. Correlacionando algo importante, a necessidade da divisão do trabalho pode ser interpretada como uma pressão da sociedade sobre os indivíduos, haja vista que uma população mais densa apresentaria mais necessidades e, consequentemente, soluções para absorvê-las. Porém, deve-se reforçar que para Durkheim a divisão do trabalho não se deu conscientemente pelos indivíduos, haja vista que existiu um estágio de transição, onde a solidariedade mecânica e a inexistente percepção individual foram perdendo força e a solidariedade orgânica impulsionada pela divisão do trabalho foi tornando-se mais influente e determinando as características sociais.
Contudo, a solidariedade orgânica converge para a expansão do individualismo, e uma relação de interdependência provocada pela divisão do trabalho, como determina Durkheim (1984, p. 83): "a individualidade do todo aumenta ao mesmo tempo que as partes; a sociedade se torna mais capaz de se mover em conjunto, ao mesmo tempo que cada um dos seus elementos tem mais movimentos próprios".

Explique a divisão do trabalho social.


A sociedade deveria ser vista como um sistema organizado, ordenado e interdependente de várias instâncias que juntas transformar-se-iam em uma unidade, para Durkheim a sociedade é considerada como um corpo humano que depende do perfeito funcionamento dos seus órgãos (instâncias sociais) para sobreviver. Com o inchaço da sociedade segundo este sociólogo multiplicam-se estes "órgãos" em quantidade fruto da especialização da mão de obra e da diversificação da produção, para Émile Durkheim quando um setor produtivo da sociedade ou um "órgão" não consegue desenvolver seu papel em plenitude com as outras instâncias sociais o denominado "corpo" (sociedade) adoece criando assim um estado de anomia social. Porque, como nada contém as forças em presença e não lhes atribui limites que sejam obrigados a respeitar elas tendem a se desenvolverem sem termos e acabem se entrechocando, para se reprimirem e se reduzirem mutuamente.
Segundo Émile Dürkeheim a anomia social se da através da perda do sentido de dependência das outras áreas, quando o homem foca-se somente em sua especificidade e perde a noção do todo, ignorando os outros atores sociais. Logo, o restabelecimento do bom funcionamento social só seria possível através de "corporações capazes de cumprir com a autoridade moral estabelecendo regras de conduta sobre os indivíduos". Assim a divisão do trabalho assumiria o seu caráter moral ampliando a coesão na sociedade moderna.
A divisão do trabalho social não provoca, segundo o autor, senão em suas formas patológicas, a desintegração da sociedade, mas um novo tipo de solidariedade.

Por que ocorre a preponderância progressiva da solidariedade orgânica?

A preponderância progressiva da solidariedade orgânica trata-se, segundo Durkheim (1984, p. 85), de "uma lei histórica que a solidariedade mecânica, que inicialmente é a única ou quase, perde terreno progressivamente e que a solidariedade orgânica se torna pouco a pouco preponderante". A solidariedade orgânica é mais complexa e Lakatos (1985, p. 47) completa que "à medida que as sociedades se tornam mais complexas, a divisão do trabalho e as consequentes diferenças entre os indivíduos conduzem a uma crescente independência nas consciências. As sanções repressivas, que existem nas sociedades primitivas, dão origem a um sistema legislativo que acentua os valores da igualdade, liberdade, fraternidade e justiça". Com esse trecho podemos sintetizar a preponderância da solidariedade orgânica sobre a solidariedade mecânica. Tal preponderância também nos mostra (a grosso modo, é claro), fazendo uma ponte com o "suicídio" também abordado no texto-base, que o grau de satisfação e a consequente diminuição na taxa de suicídios em uma sociedade devem-se a modernidade da sociedade, que está relacionada com a preponderância (ou poderiamos dizer quase dominância nos dias de hoje) da solidariedade orgânica na sociedade, pois quanto mais a solidariedade orgânica é preponderante, mais moderna é a sociedade.

O que é anomia social?

Durkheim criou o termo anomia social para descrever situações em que as normas sociais sofrem um período de desestabilização. A anomia social é um estado de falta de objetivos e identidade, quando há uma quebra com os valores tradicionais que geralmente estão ligados às concepções religiosas. Para Emile Durkheim, este é um estado passageiro, pois até nas maiores quebras de valores como as revoluções, o ápice do estado de anomia é atingido nos confrontos para logo após os laços de solidariedade social serem refeitos sob diferentes normas. Se esse estado não fosse passageiro, a sociedade se dissolveria gerando um caos ainda maior.
Para concluir, onde há Anomia, há ausência de normas sociais estruturais (religião, poder jurídico, etc), os laços de solidariedade se enfraquecem e ocorre a desestabilização.

Para Durkheim, quando ocorre uma situação de anomia social?

Segundo Quintaneiro (2002, p. 80), “quando, numa sociedade organizada, acontece de os contatos entre os órgãos sociais serem insuficientes ou pouco duradouros, surge uma situação de desequilíbrio: o sentimento de interdependência se amortece, as relações ficam precárias e as regras indefinidas, vagas.” Isto caracteriza um estado de anomia: a desagregação da sociedade.
Para sair deste estado anômico da sociedade Durkheim tem na divisão social do trabalho a principal proposta. A solidariedade gerada pela divisão social do trabalho cria elos sociais e assume um controle moral que leva ao restabelecimento da harmonia social.

Referências Bibliográficas:


  • DURKHEIM, Émile. Émile Durkheim: sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1984. Coleção Grandes Cientistas Sociais. (Capítulos: Método para determinar a função da divisão do trabalho; Solidariedade Mecânica; Solidariedade Orgânica; Preponderância Progressiva da Solidariedade Orgânica; Divisão do Trabalho Anômica)
  • QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira; OLIVEIRA, Maria Gardênia Monteiro de. Um Toque de Clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
  • Lakatos, Eva Maria. Sociologia geral. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1985.
  • PEREIRA, Helde Cardoso. Texto-aula 12: Durkheim, solidariedade mecânica e orgânica. Disponível em: < http://docentes.esgs.pt/csh/PSI/docs/se_A12.pdf >. Acesso em: 09/03/2012.
  • Durkheim propõem uma teoria do fato social. Disponível em: <  http://www.airtonjo.com/socio_antropologico02.htm  >. Acesso em: 10/03/2012.
  • DUGLOKENSKI, Leonardo. Análise Comparativa da divisão do trabalho entre Marx e Durkheim. Disponível em: <  http://www.webartigos.com/artigos/analise-comparativa-da-divisao-do-trabalho-entre-marx-e-durkheim/4688/  >. Acesso em: 10/03/2012.
  • CAETANO, Érika de Cássia Oliveira. A Divisão do Trabalho: Uma Análise Comparativa das teorias de Karl Marx e Émile Durkheim. Disponível em: <  http://www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20060410095823.pdf >. Acesso em: 10/03/2012.

domingo, 4 de março de 2012

ABORDAGEM SOBRE JULGAMENTOS: DE VALOR E REALIDADE.

O que são julgamentos de valor?

Segundo Durkheim, "Um julgamento de valor exprime a relação de uma coisa com um ideal", ou seja, "um julgamento de valor tem como objetivo dizer não aquilo que as coisas são (como o julgamento de realidade), mas sim aquilo que elas valem em relação a um sujeito consciente". Para facilitar a explicação e evitar problemas de entendimento Durkheim posteriormente redefiniu o conceito de julgamento de valor substituindo o sujeito individual pelo sujeito coletivo, fazendo assim com que a definição anterior seja em relação a sociedade. Portanto pode-se dizer que um julgamento de valor exprime a relação de uma coisa com um ideal moral, um ideal que seja comum a todas as pessoas da sociedade. É claro que os julgamentos são diferentes de acordo com os ideais a que se empregam, cabe a cada um definir os ideais que serão a base para os julgamentos a serem feitos posteriormente. 

O que são julgamentos de realidade?

Um julgamento de realidade, segundo Durkheim, representa um julgamento daquilo que existe. Por exemplo, se dissermos que o céu é azul, estamos realizando um julgamento de realidade, pois estamos apenas reafirmando aquilo que é verdade, ou seja, aquilo que é real, que existe daquela maneira. 

Qual a relação entre julgamento de valor e de realidade?

Quando averiguadas as definições de julgamento de valor e de realidade é possível identificar as relações dos mesmos, quanto às suas características no âmbito coletivo e, principalmente, no que tange à relação dos mesmos com os ideais. Levando em consideração que o primeiro julgamento é aquele em que se conceitua o que existe e o outro aponta para o valor do mesmo, tal conexão converge para uma avaliação onde não ocorre diferença da natureza, haja vista que existe uma atribuição de ideal. 
Durkheim aponta que os conceitos também são construções de espírito, e que acabam por resultar na determinação de ideais, sendo eles influentes nos valores, justificando por meio da estrutura pela qual os mesmos são constituídos: a linguagem. Abordada nos fatos sociais, a linguagem é um fenômeno necessariamente coletivo, consolidada pela sociedade nas relações e no modo de se interagir, sendo assim é reforçada a denominação de ideal coletivo, crucial para relacionar os dois julgamentos. 
Levantando uma semelhança entre eles, mesmo assim, não se pode dizer que um julgamento resulta em outro, mas tal interação entre eles é proveniente de uma única faculdade de julgar, pois como colocou Durkheim “não há uma maneira de pensar e de julgar para estabelecer existências e uma outra para avaliar valores”, reforçando que a realização dos julgamentos designa um conjunto de ideais a serem executados. 
Torna-se pertinente abordar uma questão que envolve a disjunção dos julgamentos e a sua semelhança apontada nos parágrafos anteriores: as considerações relativas às diferenças não deixam de subsistir quando enfatizamos um rol de características que direcionam para uma relação de semelhanças, uma vez que é importante compreender a estrutura de uma para com a outra, e suas relações, principalmente conectadas pela atribuição dos ideais, no âmbito da faculdade de julgar. Enquanto o julgamento de existência é apontando como determinação de como são as realidades, o outro – de valor – consiste em transfigurar as realidades com que se relacionam.

O que os julgamentos de realidade tem a ver com a Ciência Positiva?

Para Durkheim os julgamentos de realidade ou existência têm um papel fundamental que consiste em conceituar as realidades, por um processo de representatividade do que elas realmente são. Dado esse apontamento fica evidente que tal tipo de julgamento está condicionado a descrever com peculiaridades a realidade, de modo que exige e existe um processo de observação, assimilação e conceituação, ressaltando que é uma determinação onde se destaca o ideal coletivo, com um norteamento por meio da linguagem. 
Por meio da consideração anterior, baseada na literatura de Durkheim, é plausível citar um breve contexto das Ciências Positivas: em um ponto lacônico temos que elas são norteadas pelo estudo das relações existentes entre os fatos que podem ser observados, além de explicar coisas mais práticas na busca de elaborar conceitos por meio da observação e experimentação. Intercalando os conceitos de julgamentos de realidade e tal ciência fica evidente que o primeiro é um processo concernente de metodologia oriundo de um caráter positivista e que pode ser observado e explicado, consolidando uma relação de inserção do mesmo como uma perspectiva da ciência positiva. 
Em plena confirmação dos traços do positivismo em Émile Durkheim observa-se que não só o mesmo usa dos princípios e estrutura metódica dada para estudo dos fenômenos observáveis, assim como aponta para os ideais como objetos de estudo a ser analisado e explicado. Um ponto. Para Durkheim a Sociologia “vê a faculdade do ideal como uma faculdade natural, da qual procura as causas e as condições, como a finalidade, se possível, de ajudar aos homens a disciplinar o seu comportamento”. Contudo, considerando as semelhanças existentes entre os dois julgamentos, como apontado na questão anterior, é desejável correlacionar a compreensão de que o ideal é um objeto de estudo e, assim, integramos com as Ciências Positivas.

O que é moral para Durkheim?

A moral é tratada como um sistema de regras de conduta. Distinguindo as regras morais de outras regras, Durkheim observa que as regras morais possuem uma autoridade especial, ou seja, a obrigação é uma das primeiras características da moral, assim como o interesse do agente de alguma maneira, o desejo de cumprir com a obrigação, já que não existe ato realizado puramente pelo dever ou que apareça simplesmente como bom, assim como não há atos apenas desejáveis, uma vez que essas esferas se mesclam na realidade. 

O valor moral da sociedade equivale à soma dos valores morais individuais?

Durkheim entende a moral como uma regra determinante de conduta. Segundo ele, "o homem para ser moral, tem que interessar-se por algo distinto de si mesmo; é necessário pertencer a uma sociedade". A lição básica de que a moral é um fato social implica que o valor moral é algo exterior aos indivíduos.
Um indivíduo pode estabelecer valores morais que diferem de um outro indivíduo. No entanto, os indivíduos inseridos numa sociedade partilham dos mesmos valores morais, o que nos leva a inferir que os valores morais individuais, quando não têm relação íntima entre si, são discriminados pela sociedade. Salienta-se, portanto, que para Durkheim o valor moral da sociedade não é uma soma dos valores morais individuais, mas sim uma síntese destes.

Quais exemplos que podemos dar da visão Durkheimeana da relação entre moral e sociedade?

Para Durkheim, fora da sociedade, o homem é apenas um animal selvagem que só se tornou humano devido às habilidades sociais que desenvolveu. O homem fora da sociedade concebe diferentes ideais, porem é a sociedade que o impulsiona e lhe fornece os meios para erguê-los. Um dos exemplos que Durkheim cita em seu texto é o das festas religiosas que “pode reaproximar os homens e fazê-los comungar de uma mesma vida intelectual e moral. Contudo, Durkheim propõe que não há sociedade sem moral, e que esta atua em um sistema de coesão da sociedade, mantendo um equilíbrio necessário.

Referências Bibliográficas:

  • DURKHEIM, Émile. Émile Durkheim: sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1984. Coleção Grandes Cientistas Sociais. (Capítulo: 1 - Divisões da Sociologia: as ciências sociais particulares; 2 - O que é fato social?)
  • MELO, Marina Félix de. A Moral em Émile Durkheim. Trabalho de pós-graduação na Universidade Federal de Pernambuco. Recife: 2009.
  • SCHNEIDER, Sergio; SCHIMITT, Cláudia Job. O uso do método comparativo nas Ciências Sociais. Cadernos de Sociologia, Porto Alegre, v. 9, p. 49-87, 1998.
  • A Sociologia em Émile Durkheim. Disponível em: < http://www.culturabrasil.pro.br/durkheim.htm >. Acesso em: 03/03/2012.